28.10.03
 
Meu recadinho à Warner Brasil não teve sucesso: nos sites online, "In Time" está para pré-venda como CD simples. Minha dica: não compre.

ouvindo: Grandaddy - "Stray Dog And The Chocolate Shake".

27.10.03
 
Está pela net, mais especificamente aqui, que o aguardado debut do Eagles Of Death Metal sai em 14/02/2004, pela Rekords Rekords. Esse é mais um projeto traquinas do Joshua Homme, o cara que faz o melhor rock da década.



ouvindo: Desert Sessions 9 - "Crawl Home".

 
Putz! Tava conferindo os preços de um Ipod na esperança de que o aparelhinho fosse ao menos acessível. Não é.

ouvindo: Foo Fighters - "Have It All".

25.10.03
 
Em Porto Alegre choveu o dia todo. Todo mesmo.
Rolou "Yankee Hotel Foxtrot" até eu não agüentar mais. Quem dera todos meus dias fossem assim.

ouvindo: Wilco - "Pot Kettle Black".

20.10.03
 
Da série "Novembro vai ser uma brasa, mora?":

- Grandaddy - "Sumday" 2-CD UK reissue (03/11/2003): relançamento do excelente disco de 2003. O segundo CD vem com faixas ao vivo, sendo 6 delas no festival Glastonbury e 3 delas em uma rádio francesa. As faixas do CD bônus são:

1) The Crystal Lake
2) For The Dishwasher
3) Yeah Is What We Had
4) A.M. 180
5) Our Dying Brains
6) Laughing Stock
7) The Go In The Go For It
8) Saddest Vacant Lot In All The World
9) He's Simple, He's Dumb, He's The Pilot

- Desert Sessions - "Crawl Home" UK single (03/11/2003): 4 músicas encabeçadas pela colaboração entre Josh Homme e PJ Harvey. Tracklisting ainda não confirmado.

- Radiohead - "2 + 2 = 5" UK single (17/11/2003): 3o. single do álbum "Hail To The Thief".

CD1:
1) 2 + 2 = 5
2) Myxomatosis (Christian Vogel remix)
3) There There (demo)

CD2:
1) 2 + 2 = 5
2) Scatterbrain (Four Tet remix)
3) I Will (1st mix at Ocean Way)

DVD:
1) 2 + 2 = 5
2) Sit Down, Stand Up (video)
3) The Most Gigantic Lying Mouth Of All Time (excerpt)

"Delirium Cordia", do Fantômas, teve sua data de lançamento adiada para um futuro próximo. De acordo com a gravadora, a embalagem rebuscada sofreu problemas de manufatura e complicou o processo. O EP de Mark Lanegan também está atrasado. "Here Comes That Weird Chill" deve ficar para a data de 20 de janeiro de 2004.

Foi lançado recentemente um EP dos remixes que o UNKLE fez para No One Knows, do Queens Of The Stone Age. O CD é um lançamento canadense, e as faixas são as seguintes:

1) No One Knows (album version)
2) No One Knows (UNKLE Reconstruction radio edit)
3) No One Knows (UNKLE Reconstruction full length)
4) No One Knows (UNKLE Reconstruction vocal version)
5) No One Knows (CD-ROM video)

ouvindo: Placebo - "Running Up That Hill".

18.10.03
 
Prezada Warner Music Brasil:

Gostaria de sugerir à V.Sa., toda-poderosa, que considerasse o lançamento, mesmo que em edição limitada, da coletânea do R.E.M. em versão dupla aqui no Brasil. O conteúdo do CD extra que sairá no exterior torna o produto muito mais interessante, motivando um fã que possui todos os discos presentes na coletânea a comprá-la.

Caso isso não seja possível, pelos milhares de motivos que possas alegar, deixo meu sentimento como consumidor e esclareço a total falta de interesse na versão de um único CD. Não me considero idiota ao ponto de comprar um disco de R$ 35,00 por causa de uma ou duas músicas inéditas. Não mesmo.

ouvindo: R.E.M. - "Bad Days".

17.10.03
 
O Lopes, colega de lista Dying Days ficou, como eu, chateado que não teria como conferir na Funhouse se o misterioso gringo era ou não o Nick Oliveri. Mas, ao comentar o boato com uma amiga, encarregou-na de passar no dia de hoje um retorno em relação à aparição ou não do tal Rex Everything. Segue abaixo a resposta dela:

"Não vi nenhum careca peladão por lá... mas vi um cara que parecia o pinóquio! Usar o pseudônimo da cara foi feio. Até a MTV estava por lá, com câmeras, diretores e VJs magrelos, pseudo-banguelas e desengonçados com groupies esquisitas pra conferir os rumores... Mas tudo bem, a noite foi muuuito divertida! Ninguém saiu perdendo. Well, você não perdeu nada. Pode dormir em paz agora!"

Tá esclarecido. Fica para a próxima.

ouvindo: The Daming Well - "Awakening".

 
Nebula - "Atomic Ritual" (2003): Afinal de contas, o que diabos é esse stoner rock? Rótulo que surgiu há anos - há quem diga que foi inaugurado pelos seminais Black Sabbath e Blue Cheer, conquistou seu primeiro momento de sedimentação junto às massas quando a banda Kyuss encabeçou dois clássicos da vertente: "Blues For The Red Sun" e "Welcome To Sky Valley". Ambos os álbuns definiam um estilo que pode ser sintetizado em duas palavras: peso e drogas. Sem o discurso direto de um Planet Hemp, as bandas adeptas dessa vertente investem em guitarras toscamente pesadas, jams ensurdecedoras, longos solos instrumentais - influenciados ao extremo pelos efeitos alucinógenos das drogas e do álcool. Como resultado, um psicodélico caminhão sonoro que resgata o som pesado dos anos 70 e relembra muito do grunge da década passada.

O stoner sempre funcionou como sub-produto, sobrevivendo no underground graças ao sempre constante surgimento de bandas e selos independentes que se esmeravam em proporcionar a si próprios a incansável diversão que o modelo proporcionava. Grande parte do público metaleiro identificava-se com a música deles, ajudando a difundir as bandas entre os amantes do som pesado. Kyuss, Fatso Jetson, Monster Magnet, Fu-Manchu são artistas que aos poucos conquistaram territórios como a Europa, de forma amadora e pouco ambiciosa. Rock por prazer, a antítese do mainstream.

Na virada dessa década, com a coincidência de sucessos de bandas como Queens Of The Stone Age (que não é estritamente uma banda stoner, conceitualmente falando) e outras que investem em som pesado, a mídia em seu costumeiro hábito de explorar novas cenas focalizou uma série de artistas que obedeceriam ao velho rótulo. Gravadoras independentes como a Southern Lord e a finada Man's Ruin receberam notoriedade em seu catálogo. Algumas gravadoras major chegaram a ensaiar flertes com artistas da cena, tentando aproveitar o momento do QotSA para alavancar uma alternativa ao cambaleante nu-metal. Como conseqüência, o rótulo stoner acabou vendido ao grande público com uma conotação diferente de sua origem, citando uma série de artistas de forma equivocada - já vi indicações do At The Drive-In (!?) e Hellacopters como banda stoner.

E foi nesse momento de notoriedade em que o Nebula veio ao encontro do grande (ou seria médio?) público. O vocalista e guitarrista Eddie Glass e o baterista Rubem Romano, retirantes do Fu-Manchu, uniram-se ao baixista Mark Abshire em 1997 para dar sua versão de som desértico (mais um rótulo aí). Além da influência natural do peso stoner, o Nebula sempre mostrou raízes na cena de Seattle, trabalhando com o célebre produtor Jack Endino em alguns discos, utilizando muitas referências de Mudhoney (Mark Arm colaborou em mais de uma música dos caras) e gravando dois CDs pela Sub Pop. O som deles acabou afastando-se um pouco da receita stoner, por abrir mão do peso concentrado e agregar o sentimento dopping nos vocais e o ritmo psicodélico nas faixas. Mais para grunge do que para heavy metal, o Nebula notabilizou-se pela proposta mais viajandona, com notável clima espacial em suas músicas.

Seu som roqueiro e garageiro agradou em cheio os admiradores do rock e do peso, transformando a banda em um novo nome para as comunidades alternativas. Ainda assim, com todas essas propostas bem definidas e a boa repercussão, o Nebula pareceu nunca estourar de vez, uma banda falada por muitos e escutada por poucos. O caráter garageiro intrínseco a eles os coloca em uma posição mais satisfatória quando apresentada em um pequeno bar no meio do nada, longe de um coliseu lotado por milhares de pessoas. O som viajante tende a dar efeito depois de um certo trabalho, de uma melhor apreciação de seus discos, diferente de um resultado imediato de um Foo Fighters. Por essas e por outras, o Nebula seguiu fazendo o dever de casa, na ânsia de um dia tirar nota 10 no exame. Pois esse dia chegou.

"Atomic Ritual", apesar da capa de gosto duvidável, é um bom disco de rock. Tem todos os elementos que concretizaram o som do Nebula: a pauleira, a psicodelia, a viagem espacial, os vocais arrastados e seqüelados de Glass, a herança do Mudhoney. Entretando, dessa vez eles têm um tempero definitivo que foi decisivo para o resultado acima das expectativas: Chris Goss. Goss, o produtor por trás dos clássicos do Kyuss e dos dois primeiros álbuns do QotSA, sabe como poucos conduzir um disco de forma eficiente. Sua mão privilegiada agarrou o tradicional som do Nebula e anabolizou-o de uma maneira inédita, sem que a banda quebrasse com seus princípios ou apelasse para saídas comerciais. Foi justamente a junção do "útil ao agradável" que nos agraciou com um disco poderoso.

A faixa-título abre o disco e o clima começa com um micro improviso introdutório - bateria, baixo e guitarra se encontram aos poucos e depois descambam para o cacete. A partir dai já se nota um som mais aprimorado, mais musculoso que o do Nebula anterior. O esquema é aquele: momentos com cara de jam intercalados com riffs eficientes, linhas instrumentais bem elaboradas e rock de garagem no talo, na medida certa. "So It Goes"começa com uma levada pop (lembra "Go With The Flow" do Qotsa) mas logo entra nos solos bem encaixados de Eddie Glass. Os vocais são cool até o limite e a música acerta alvos quando o assunto é rock. "Carpe Diem" tem mais daquela levada consagrada pelo Nebula. Hey-heys e Huh-huhs empolgantes. A química do álbum usa e abusa de repentinas mudanças, e a cada novo refrão o resultado é refrescante. Jams espaciais com efeitos eletrônicos no fundo dão a conotação futurista apresentada pelo encarte do disco. "More" traz mais flertes com as influências setentista que dão formato à música dos rapazes. "The Beast" é Nebula elevado à quinta potência, "Out Of Your Head" é o que se pode ter de um som pesado que induz o consumo de ervas naturais. "The Way To Venus" tem colaboração de teclados, instrumento nada usual no passado do trio, "Paradise Engineer" começa com violões e um efeito vai-e-volta, psicodélico, para então lhe oferecer mais uma dose de stoner arrastado. "Electric Synapse" tem ligações com punk a-la-Turbonegro e "Strange Human" traz mais Nebula nu e cru. O disco termina com uma vinheta chama "Fin", uma música muito interessante ao violão, conduzida por, quem diria, um piano. Há uma faixa escondida, uma regravação da faixa título ("Atomic Ritual Revisited") em versão ainda mais garagem do que a original.

"Atomic Ritual" tece uma nova fase na carreira do Nebula. Embora isso não garanta que o álbum encabece as paradas musicais - note que ele saiu por um selo independente, a Liquor And Poker - a banda finalmente tem um cartão de visitas à altura de sua reputação junto ao público. Sem abrir mão de suas origens, o Nebula
tem agora a capacidade de atingir novas audiências com efeitos mais imediatos. Um disco de rock de resultados imediatos e garantidos.

Obs.: A capa do CD, que gera controvérsias quanto à sua beleza, é apenas uma parte de um encarte diferenciado. Concebida em papelão, a embalagem é impressionante, com desenhos em relevo, tinta brilhosa, fotos bem sacadas e um acabamento de tirar o chapéu. Acompanha um adesivo maneiro com o logotipo da gravadora. Coisa fina.



ouvindo: R.E.M. - "Bad Day".

16.10.03
 
Ontem finalmente consegui assistir Man On The Moon, aquele filme do Jim Carrey sobre o comediante norte-americano Andy Kaufman. Para mim, que não conhecia a história do cara, foi muito bacana. É sempre empolgante descobrir a trajetória de artistas que fizeram diferença, que ultrapassaram barreiras e acima de tudo revolucionaram algum formato artístico. Mesmo com a irrelevância que Kaufman possa imprimir a nós brasileiros, o filme cumpre com o papel de transmitir a maneira como o cara flertava com a falsa realidade e, através de seus métodos cáusticos, imprimiu um novo conceito de como explorar as situações igualmente chocantes e inusitadas.

Entre seus célebres números, estavam a imitação de Elvis, a leitura na íntegra de livros, shows de luta-livre contra mulheres e a encarnação de personagens politicamente incorretos. A idéia de utilizar o alter-ego Tony Clifton, um verdadeiro vilão mau-caráter, é genial. Sua grande sacada era provocar a platéia, mexendo com suas expectativas e negando entregar a ela o humor que era esperado em um determinado show.

Não havia uma explicação formal que um determinado número era previamente ensaiado ou se aquilo que estava acontecendo refletia o momento, as forças das circunstâncias. Seu hábito de deixar o público em dúvida quanto à veracidade ou não de suas performances chegou ao ponto de deixar muita gente incrédula no momento em que a notícia sobre sua doença fatal veio a público. Quando ele morreu, muitos tomaram como uma gozação e várias lendas a respeito dele surgiram, como a idéia de que Andy não havia morrido (Elvis alguém?). O desempenho de Carrey é muito bom, conectando o ator à possível influência exercida pelo próprio Kaufman.

Quem quiser conhecer mais sobre a história de Andy, vale assistir o filme e dirigir-se para os inúmeros sites sobre o ator.

Outro ponto de destaque do filme é a contribuição do R.E.M., que ja tinha gravado em 1992 a canção-homenagem "Man On The Moon" no álbum "Automatic For The People". A banda colaborou com a trilha ao oferecer, além da canção-título, duas outras faixas.



ouvindo: The White Stripes - "The Hardest Button To Button".

15.10.03
 
Putz... Mesmo com toda a força da mídia internacional, com toda a repercussão dos blogs, com todas as capas de revista, com a aprovação da opinião pública, as indicações para melhor do ano, com cerca de duas semanas para a dupla desembarcar aqui o número oficial de vendas do novo CD do The White Stripes no Brasil é nada mais nada menos de 2.000 peças. Sim senhores, 2.000 peças.

Enquanto na Inglaterra foram 400.000, nos EUA cerca de um milhão, aqui no nosso Brasil a coisa ficou nesse número. Foi o que escutei agora na Unisinos FM. Então vejam bem, senhores, isso explica os motivos pelos quais temos apenas meia-dúzia de lançamentos bacanas por ano: não vende. Ou você, como dono de gravadora, lançaria um disco para vender apenas 2.000 cópias?

ouvindo: Desert Sessions 9 - "Covered In Punks Blood".

 
Li na coluna do Lúcio Ribeiro e veio a se confirmar no próprio site da casa noturna paulistana Funhouse: um tal Rex Everything vai tocar nas pickups da casa amanhã, dia 16/10. Bem, para os desavisados isso não significa porra nenhuma, mas para quem tem familiaridade com os texanos do Queens Of The Stone Age forma-se automaticamente uma conexão com o baixista Nick Oliveri.

No primeiro álbum de seu projeto paralelo, Mondo Generator, Nick utiliza o pseudônimo Rex Everything, assim como em algumas músicas das Desert Sessions.

No site da Funhouse eles mencionam a participação do Rex, ex-membro da banda punk Dwarves, cargo já ocupado por Nick. As evidências são promissoras e assim como pode aparecer um gringo qualquer naquela noite, pode aparecer também o careca. Pode ser também que não apareça ninguém. A conexão com esse pseudônimo transforma as coisas mais interessantes, uma vez que o uso de uma informação obscura como "Rex Everything" não está em conhecimento geral de qualquer produtor. Tudo está batendo de forma favorável. Se isso se confirmar, vou digerir as unhas de raiva por não ser paulista. Pelo menos por uma noite. Já pensou participar de uma exclusividade dessas?

ouvindo: Grandaddy - "Now It's On".

14.10.03
 
The Mars Volta - "Tremulant EP" (2002) / "De-Loused In The Comatorium" (2003): Alguns caras são mesmo esquisitos, definição que se adequa perfeitamente à dupla dinâmica responsável pelo The Mars Volta. Dá para começar pela aparência desses manos: os dois ostentam uma cabeleira estilo afro black power de deixar o ouvinte em dúvida sobre o tipo de som que esses freaks executam. O guitarrista, Omar Rodriguez, completa o visual com um óculos de aros escuros e lentes fundo-de-garrafa, como daqueles guris que levam pancada de todo mundo nos filmes da sessão da tarde. O vocalista Cedric Bixler veste-se com roupas em tamanho menor e tem o hábito de criar performances epiléticas e eletrizantes no palco. Ambos traquinas se notabilizaram por encabeçar uma das bandas igualmente esquisitas e de maior consistência da safra recente: o At The Drive-In.

O At The Drive-In honrou com a (agora) fama dos rapazes de excêntricos quando, depois de amargar anos e mais anos de fedor no submundo do hardcore texano para no início da década conquistar o reconhecimento junto à crítica e público, levantou a bandeira branca e anunciou fim de atividades. Justamente quando a chuva de doletas avançava o campinho deles e seu primeiro e único álbum numa major (o excelente "Relationship Of Command") ensaiava uma carreira promisora junto aos ouvidos do grande público. A banda rachou por motivos de ambição artística e, enquanto os outros três integrantes do AtD-I formaram o razoável Sparta, os dois maluquinhos projetaram junto com outros três parceiros uma nova traquinagem chamada The Mars Volta.

A estréia do quinteto seu deu através de um EP chamado "Tremulant", editado pela indepentente Gold Standard Labs. O som, lançado em 2002, explicava ao ouvinte a razão pela qual o At The Drive-In esgotou sua vida útil. Em comum com a antiga banda, "Tremulant" tinha acima de tudo a explosão intercalada por momentos contidos, as guitarras travessas de Omar e a gritaria inconfundível de Cedric. Estavam felizes e bem representados os fãs do som da falecida banda, estavam abertas as portas para novas experimentações cobiçadas pelos membros do Mars Volta. E isso ficou bastante evidente quando comparado com a outra metade do ATD-I: os rapazes do Sparta (a outra banda) acabaram produzindo um som hardcore insípido, forjando características da banda original. Já "Tremulant" foi produzido pelo cult Alex Newport e apresentou evoluções nas composições, sobretudo pela inclusão de outros ritmos que não o metal pesado que notabilizou "Relationship Of Command" e de uma participação importante de efeitos eletrônicos herdados pelo projeto paralelo dos integrantes chamado De Facto. E, acima de tudo, deixou claro que o tempero principal dessa nova etapa era mesmo a psicodelia, a sonoridade espacial.

A banda, que já nasceu grande, tinha então uma gama surpreendente de fãs interessados no que devia aparecer dali para a frente. As evidentes expectativas já começavam a ser ampliadas desde o início do ano, quando a banda começava a definir datas de lançamento e executar turnês concorridas de ótimos resultados. Tudo se preparava para que o novo disco surgisse com uma obra de lunáticos, uma nova dimensão musical, digna do mais exigente e desafiador ouvinte. Mas não foi bem por aí, já que o compromisso com as atitudes inusitadas jamais poderia ser abandonado.

"De-Loused In The Comatorium" saiu pela major Universal, foi surpreendentemente produzido pelo mainstream Rick Rubin (Chili Peppers, System Of A Down) e conta com um inusitado membro convidado em todos seus 60 minutos e 65 segundos: o baixista Flea. O que antes se desenhava como um grande grito de independência foi se concretizar em uma associação com ícones da cultura industrial, com a ressalva de que as figuras escolhidas têm indiscutivelmente uma boa reputação por serviços prestados ao rock. A capa, uma cabeça decepada emitindo um facho de luz em pleno necrotério, faz frente a qualquer bobagem digna do Iron Maiden, o que nos leva a cogitar da possibilidade da banda apelar para recursos idiotas para chamar a atenção de adolescentes indecisos. Mas garanto-lhe, a sensação de desconfiança dura poucos segundos, até o momento onde Cedric começa a introduzir senteças melódicas, como nunca antes havia sido feito pelos rapazes. A faixa é "Son Et Lumiere", que por sinal, funciona em conjunto com a seguinte, "Inertiatic ESP".

A mão de Rick Rubin é facilmente notada ao se analisar o foco que as canções receberam. A experiência de Rubin e Flea foram indispensáveis para que as experimentações almejadas pela banda tomassem o rumo certo, sem risco de cair nos excessos que poderiam ser criados. Quando comparadas ao EP de estréia, as músicas estão mais bem conduzidas, organizadas e anabolizadas. Uma experimentação traduzida para o universo mainstream. "Inertiatic ESP" alia muito bem a empolgação com a melodia, marcando uma das principais características da banda que é a competência em criar músicas ao mesmo tempo intrigantes e eficientes. O baixo de Flea é comportado, exerce papel secundário nas faixas. "Roulette Dares (The Haunt Of)" começa como o saudoso At The Drive-In, mas em seguida entra em climas contidos para intercalar momentos calmos/nervosos. Nervoso é uma definição boa para o que temos aqui. As passagens entre diferentes seções de uma única música são perfeitas, há uma infinidade de diferentes propostas sonoras duelando entre si. Teclados, efeitos eletrônicos, guitarras. Já as letras herdam a tendência da banda anterior de escrever frases extremamente non-sense. Melhor falar sobre nada do morrer pela boca.

"Tira Me A Las Arañas", título saudoso à influência latina da dupla, começa com dedilhados de guitarra. Há muito do que ouvintes chamaram de neo-progressivo, de utilização de instrumentos de forma a dominar o foco da canção, de exercer a mesma relevância que os vocais. Acordes inversos, experimentalismos, multiplicidade de sons. O ritmo da faixa é quase latino, conduzido pela percursão empolgante, difícil de colocar em palavras, confesso. "Eriartaka" é sublime na criação de climas, com um simples dedilhado coberto de um efeito que introduz a faixa e é complementado por belas estrofes melódicas de Cedric e pela inacreditável competência da guitarra de Omar. "Cicatriz ESP", com seus intermináveis 12 minutos, é o vôo progressivo/psicodélico da banda que me remete à uma influência que ainda não vi citada: Carlos Santana. A faixa tem a participação do guitarrista/mestre John Frusciante nas guitarras e no tratamento "A100" (antes que me pergunte, não sei o que significa). A faixa-epopéia atravessa diversos momentos, explora os mais longos territórios, de vinhetas eletrônicas a jams com longos solos de guitarra. Em determinados momentos, a guitarra entra no foco principal com timbre bem semelhante à de Santana, o que me conectou diretamente ao guitarrista (observe a 09:30). Tamanha duração de experimentações fazem com que a faixa seguinte, "This Apparatus Must Be Unearthed", volte aos parâmetros mais convencionais, de efeito mais imediatos. "Televators" é uma exceção: uma música de andamento lento, violões e guitarras melódicas - uma balada no universo desses caras. "Take The Veil Cerpin Taxt" encerra o disco com muita experimentação e esquisitices eletrônicas. Na faixa, a certeza de mais momentos ousados e bem sucedidos que tomam o álbum por completo.

"De-Loused In The Comatorium" parece aqueles experimentos de laboratório que funcionam com eficácia. A banda obteve sucesso em conseguir alcançar através de mecanismos mainstream a tão elaborada identidade de forma a agradar um público extenso, sem que isso significasse quebra de suas ambições artísticas. Todas expectativas geradas pelo bom EP de estréia foram satisfeitas, sendo renovadas e registradas com ainda mais ousadia no formato mencionado. E, como ilustração desse resultado, está aí o grande número de elogios e a crescente quantidade de interessados no álbum e na banda.

Obs. 1: A versão européia de "De-Loused In The Comatorium" tem uma faixa bônus, chamada "Ambulets", antes editada numa promo vendida em turnê. Nem Deus sabe se o álbum sai em versão nacional.

Obs. 2: Os caras da graxa fizeram um review sobre esse mesmo disco. Não deixe de conferir.



ouvindo: The Mars Volta - "Inertiatic ESP".

13.10.03
 
Sobre os Strokes, assim como com os White Stripes, eu ainda não consegui encontrar toda essa revolução defendida por muita gente (principalmente da imprensa). É certo que essa safra de bandas que surgiu nos últimos dois anos tem o mérito de chacoalhar o mercado e impulsionar a procura por novas bandas de rock. Mas ao mesmo tempo me pergunto se a bola da vez não poderia ter sido qualquer outra coisa. Será que a cúpula da NME reúne-se em uma sala climatizada e traça mapas mercadológicos, criando novas cenas? Enquanto Seattle pareceu genuíno (ao menos nos primeiros momentos em que recebeu os holofotes), as subseqüentes cenas foram tão dúbias que não resta outra alternativa senão comportar-se como um velho ranzinza e questionar tudo e todos.

Os Strokes viraram deuses antes mesmo do disco sair. Uma reportagem de capa da Folha Ilustrada, baseada no primeiro single deles, largava os 5 carinhas na estratosfera. Tamanha excelência obrigatoriamente exigia um som no mínimo revolucionário, inovador. Mais ou menos o que o Radiohead fez com a dupla "Ok Computer"/"Kid A", que transformaram-se em pedras fundamentais de um novo som. Mas eu acho que é por aí que reside o problema no caso dessas cenas recentes: a ordem natural da coisas é contrariada e sem que as pessoas ainda tenham escutado um disco, os conceitos já estão pré-estabelecidos. O nosso amigo Azalba vai divergir irredutivelmente das sentenças acima, mas eu sinceramente não consigo enxergar esses novos messias com a empolgação que gostaria.

Pois bem, acho que os Strokes são legais, "Is This It" é disco bem feito e as composições são boas. O resultado é acima da média. Acho que o grande mérito do disco é oferecer um punhado de canções que funcionam muito bem, que empolgam e fazem jus ao melhor do rock, trazendo fôlego às FMs e oferecendo uma alternativas "com cérebro" para os coitados que dependem do Creed ou dos Backstreet Boys. Mas daí a apostar todas as fichas do universo neles é sacanagem. Até porque não tem muito o que se aprofundar no som dos caras, não há conteúdo que coloque o quinteto na posteridade. E essa opinião replica-se para quase todos os coterrâneos dos Strokes. O White Stripes é competente, funciona muito bem e inovou com uma formação muito inusitada. Mas os discos deles não alugam o CD player por muito tempo (pelo menos o meu). São algumas escutadas num mês e está de bom tamanho.

Fico, em meio às novas bandas, com o Interpol (Queens Of The Stone Age não vale porque apareceu bem antes). Acho que esses nova-iorquinos têm um trabalho bem mais elaborado, que aos poucos vai sendo "descascado" pelo ouvinte. As influências são muito bem exploradas e os resultados até justificam um pôster na parede do quarto. Fora isso, há pontos bons e pontos ruins nos "novos artistas" que podem ser facilmente identificados. E ao contrário de outras cenas mais genuínas, coloco em dúvida a extensão que essas tendências podem alcançar. Desconfio às vezes que isso pode passar de forma bem mais rápida que possamos imaginar. Ou que estou ficando mesmo velho ranzinza.

Por essa e por outras, eu ainda não tive o interesse em ouvir o Kings Of Leon. E "Room On Fire" não está em minhas prioridades. Acho que vou esperar alguma promoção para adquirir o dito.

ouvindo: Mondo Generator - "F. Y. I'm Free".

8.10.03
 
A falta de posts deve-se a:

- correria aqui no trabalho
- cansaço
- falta de inspiração
- falta de tempo para escutar música

prefiro deixar o lance em espera do que postar qualquer porcaria.

ouvindo: A Perfect Circle - "The Package".