30.9.03
 
Desert Sessions 9&10 - "I See You Hearin Me"/"I Heart Disco" (2003): O mais legal desse projeto Desert Sessions de Josh Homme (o cabeção do Queens Of The Stone Age) é o fato de que qualquer coisa pode acontecer quando se está prestes a pressionar play. Você não sabe que tipo de música pode ser reproduzida nas caixas de som. Pode ser um samba, um baião, um doom metal, um rock-retrô, uma pré-canção do QotSA. Vale tudo.

A idéia que conduz esse projeto é reunir, na entressafra de discos do QotSA, um número de artistas/camaradas no estúdio Rancho de La Luna por uma semana e registrar músicas que nascem dessa reunião, com um cara sugerindo um riff ali, um outro mexendo lá e as faixas aos poucos ganhando vida. Dessas sessões têm-se então, como resultado, uma salada de frutas transgênica para químico nenhum botar defeito. Experimentações múltiplas, brincadeiras com instrumentos variados, descompromisso total, músicas de primeira e outras secundárias, desconexas. Tudo isso com um clima irreparável de garagem, de festa VIP para roqueiros evoluídos. Daí saiu muita coisa que celebrizou-se no Queens Of The Stone Age, como as músicas "Millionaire", "Monsters In The Parasol", "Avon" e "Hangin' Tree".

Pois as novas Desert Sessions acabam de sair, dessa vez rodeadas de um clima muito especial. Pela primeira vez, o projeto recebe as atenções de um público considerável no momento de sua chegada, graças ao estrondoso sucesso de "Songs For The Deaf" e o conseqüente interesse em torno dos rapazes da idade da pedra. Pela primeira vez, sai pelo selo/asilo-de-loucos Ipecac, gravadora que você já sabe que pertence ao Mike Patton e encarrega-se de entregar ao mundo toda a demência musical que ele pode solicitar. Pela primeira vez temos convidados especiais que tornam a brincadeira ainda mais interessante, como a musa PJ Harvey, Twiggy Ramirez (A Perfect Circle, ex-Marilyn Manson) e Dean Ween. Outros membros que já haviam participado de sessões anteriores retornam reafirmados, com reputação elevada junto aos fãs de QotSA como Troy Van Leewen (QotSA, A Perfect Circle), Chris Goss (Masters Of Reality) e Josh Freeze (A Perfect Circle). Nas expectativas, das duas uma: ou as Desert Sessions vão perder seu conceito "fuck the world" ou os estrelões de primeiro escalão vão se atirar na bagaça e balbuciar nos microfones como manda o figurino. Mas lhe digo: nem lá, nem cá.

As novas criações do Homme Labs. Inc. são as mais bem definidas da série. Homme soube aproveitar a presença de uma musa como PJ Harvey para direcionar as canções aos mais variados campos emocionais que a madame sabe explorar. Enquanto tínhamos nas sessões anteriores muitas idéias empilhadas, díspares e muitas vezes toscamente encaminhadas, temos nessa edição um disco mais contido, com faixas mais bem definidas e melhor elaboradas. É claro o intuito de deixar a experimentação bebum em hold em favor de uma melhor exploração dos potenciais dos participantes. Dessa forma, as músicas acabaram se encaixando em um contexto mais uniforme, aumentando bastante o fator "digestão" nos consumidores que vão conhecer (graças ao QotSA) a série pela primeira vez. Se esse fato vai contra o tradicional espírito inconseqüente dos trabalhos anteriores, ele acaba poupando o ouvinte de alguns exageros que acabavam pentelhando músicas infrutíferas que teimavam em aparecer anteriormente. Embora ainda obediente ao formato inusitado e livre que regimenta o projeto, a sobriedade dessa versão vai fazer com que a maioria das músicas desçam que é uma beleza para os fãs que aguardam o novo álbum das Rainhas.

"Dead In Love" abre o trabalho com um rock suingado, marca registrada das Desert Sessions e que deve ser consagrado no outro projeto de Josh, "The Eagles Of Heavy Metal". Ritmo quebrado, riff em sintonia, piano ao fundo e vocais fantasmagóricos de Josh e Alain Johannes (Eleven) em simultaneidade. Faixa para abrir o CD na manha. Em seguida, o momento cool do disco, "I Wanna Make It Wit Chu", que já havia sido divulgado em uma promo distribuída no festival Lollapalooza, além de ter sido incluída na merchandising que fecha o último do Mondo Generator. Um piano safadinho dá o ritmo e Josh Homme faz você checar no encarte se aquela voz é mesmo dele ou se estamos escutando o vozeirão de Mark Lanegan. A imitação é perfeita. Os backing vocals fofinhos sugerem a sacanagem ao repetir, sem timidez, I wanna make it/I wanna make it witchu. O disco pesa em seguida quando Josh, Twiggy e Joey Castillo sentam a mão em "Covered In Punks Blood", uma faixa instrumental na tradicional tríade guitarra/baixo/bateria. Uma seqüência de riffs de lascar. PJ dá as caras de vez em "There Will Never Be A Better Time", cantando suas pretensões de maneira rasgada a um fundo de violão tocado por Chris Goss. Eu fiquei imaginando uma bailarina espanhola em crise de identidade, chorando sangue e ecoando o ambiente com seus lamentos. A arte de escrever riffs sensacionais de rock retorna em "Crawl Home", com Polly mais uma vez nos belos vocais principais. Josh só aparece no refrão com sua voz doce, entrando em conflito com o instrumental sujo e mal-intencionado da faixa. Faixas como essa provam a facilidade do cara em escrever músicas eficientes e memoráveis, como se as tirasse do bolso. "I'm Here For Your Daughter" é uma vinhetinha com Alain e Josh nos vocais, dedilhados de violão ao fundo. "Powdered Wig Machine" honra a tradição de uso de instrumentos inusitados, com o foco em teclados e o ritmo de marcha que valorizam os belos vocais de PJ, polarizados pelos backings de Josh. Outra de riff e levada memoráveis é "In My Head... Or Something", que se não inova ao menos te dá mais uma dose do rock n' roll que você tanto gosta. "Holey Dime" é climática, com ênfase na slide guitar e principalmente na melodica tocada por PJ. "A Girl Like Me" é mais uma de ritmo bacana, chegando a soar um tanto assustadora em decorrência do clima obscuro projetado na música. "Creosote" é brincadeirinha tradicional da série, "Subcutaneous Phat" é um outro belo resultado de um trabalho em grupo, com sua batida artificial e suas pirações instrumentais. "Bring It Back Gentle" é dark, seca e "Sheperds Pie" fecha o disco com uma brincadeirinha pé-no-saco para não deixar você se enganar que tudo aqui é espontâneo, prolífico.

Desert Sessions 9 & 10 são a versão mais comportada de um universo onde a liberdade é total. Os idealizadores parecem ter assumido a necessidade de convergir o potencial envolvido em algo que convença o ouvinte, que sobreviva por si só e justifique as atenções para si. Dessa vez, as doses de ironia e piração diminuiram. Proposital ou não, os resultados alcançados são bem melhores que os do passado, com muitas canções de bom nível e praticamente nenhum filler. Com músicas mais coesas e melhor trabalhadas, Josh prova que é um dos poucos que, com seus dedos mágicos, pode transformar em ouro aquilo em que toca.



ouvindo: Desert Sessions 10 - "Bring It Back Gentle".

29.9.03
 
Eu tenho me complicado um pouco para definir discos que escutei recentemente. Com a interminável lista de artistas que passam pelos meus ouvidos semanalmente, é bem difícil assimilar as sonoridades, quanto mais um disco por completo. As definições mais recentes têm se limitado a "tipo Jesus & Mary Chain" ou "revival de pós-punk". Tem muita coisa que se parece, tem muita coisa que te deixa na obrigação de explorá-la para tecer uma definição justa. Antigamente, em tempos de Bizz, o cara descobria 10, 15 bandas em um ano e as assimilava, destilava seus discos até o último segundo. Lia 5, 6 críticas sobre um álbum. Hoje se conhece o mesmo número de bandas em um mês, ou em uma semana, mas por outro lado poucas delas cumprem com as honras de emplacar na posteridade de nossa coleções.

Acho que o último lançamento que eu consegui traçar um "dos pés a cabeça" foi o novo do Mondo Generator. E foi no talo, no dia seguinte em que escutei pela primeira vez. Tá muito mais fácil referenciar discos de outras épocas que já emplacaram na minha discografia do que as novidades. Os conceitos já estão formados, a opinião já estabilizou-se, os discos seguintes às vezes já surgiram, localizando o álbum na discografia do artista. Já as novidades nem sempre têm a cancha que justifique uma análise profunda. Muitos discos servem para uma única escutada, uma tarefa de matar a curiosidade. De não ficar para trás. Coisa meio chata essa transformação, essa dificuldade de se apegar a um álbum.

Como o que mais acabo escutando está mesmo dentro do carro, acho que em 2003 o que mais rolou foi:
- The Beach Boys: "Pet Sounds"/"SMiLE"
- The Beatles: "The White Album"
- Los Hermanos: "Ventura"
- Los Hermanos: "Los Hermanos"/"Bloco Do Eu Sozinho"
- The Polyphonic Spree: "... The Beginning Stages Of"

No ano passado, eu cheguei a estourar uma fita com o "Mer De Noms" do A Perfect Circle, além de duas fitas do Queens Of The Stone Age com "QotSA"/"Rated R" numa e o "Songs For The Deaf" noutra.

Note que apenas duas fitas que estão no carro entram no grupo de recentes. Os álbuns acima raramente figuram na seção "ouvindo", porque quando estou escrevendo no blog dou prioridade a discos que ainda não passei para K7. Mas se formos comparar as horas de audição dos K7 acima citados com a gama de álbuns que estão em casa, as fitinhas ganham disparado.

Recentemente, passei os seguintes álbuns para K7, para ver se consigo assimilar melhor e ter uma opinião formada sobre os mesmos (acredite, ainda não sei muito sobre os discos):
- The Mars Volta: "De-Loused In The Comatorium"
- Placebo: "Sleeping With Ghosts"
- Velvet Underground & Nico
- Tomahawk: "Mit Gas"
- The Blood Brothers: "Burn, Piano Island, Burn"
- Interpol: "Turn On The Bright Lights"

Alguns desses discos já estão entre os meus favoritos, mas vai ser no automóvel em que o lance vai pegar. Os mesmos já se encontram no veículo, a espera de uma voltinha.

ouvindo: Desert Sessions 9 - "There Will Never Be A Better Time".

28.9.03
 
O novo Fantômas, "Delìrivm Còrdia", será composto por apenas uma (!) música, de 55 minutos. Segundo comentários recentes do Patton, o mesmo mexe com música mais ambiental, na linha "Elegy" do John Zorn. Sai em 21/10 lá fora.



ouvindo: The Beatles - "Let It Be" (dressed).

21.9.03
 
Seguinte, estou precisando de um help. Se alguém aí tiver os scans das capas dos dois discos do Tim Maia Racional - volumes 1 e 2 (1975/76), gostaria que me contatasse por e-mail. A versão que me passaram é um CD-R com uma capa adaptada, o que me deixou nas pilhas de conseguir um scan legal das originais para fazer a minha. Dei uma procurada no google, mas até agora não achei nada.

ouvindo: Tim Maia Racional - "Rational Culture"

17.9.03
 
R.E.M. - "Up" (1998): As mudanças na história de uma banda podem acontecer por diversos motivos, sendo que com as bandas de categoria elas ocorrem por forças artísticas acima de tudo. A inconformidade com a mesmice, a indiferença com o apelo popular, o middle finger para o mercado, a busca pelo desafio e pela exploração marcaram a carreira de muita gente que muitas vezes abriu mão do dinheiro fácil em prol da satisfação pessoal. O R.E.M. pode ser considerado um destes casos onde as forças são dirigidas por decisões pessoais e instinto artístico, fazendo com que a mesma banda gravasse em uma mesma década discos com propostas musicais antagônicas.

O boom causado pelo acústico-folk interiorano "Out Of Time" revelou apenas um dos múltiplos lados que o R.E.M. assumiria no decorrer dos anos. Os caras trafegaram naturalmente pelos violões e arranjos melancólicos em "Automatic For The People", sujaram as FMs com a distorção grotesca de "Monster" e mostraram que até rock alternativo poderia ser referenciado em "New Adventures In Hi-Fi". Sempre ovacionados por público e crítica, os quatro rapazes de Athens gozaram nos anos 90 de uma idolatria incondicional, independente do caminho musical que um novo álbum pudesse sugerir. O R.E.M. mostrou, ao longo dos anos, que sua liberdade de criação era matéria-prima para um produto de indiscutível reputação.

Quando em 1998 o baterista Bill Berry pediu as contas, alegando necessidade de repouso e afastamento da agitada vida de rockstar (Berry havia sofrido um derrame algum tempo antes), a banda teve de enfrentar a necessidade de mudar por forças das circunstâncias, ao invés de fazê-lo pelo tradicional livre arbítrio. Dentro das possibilidades de integrar um novo músico à banda e seguir os caminhos como se nada tivesse acontecido, eles decidiram ser coerentes e assumir a postura de trio, aproveitando mudanças drásticas na carreira da banda para dar espaço à propostas bastante inéditas para quem gravou a reluzente "Shinny Happy People".

O conceito de ruptura foi total. Não só na música em si, que passava a incorporar conseqüências de um mundo pós- "Ok Computer" através de teclados e influências claramente eletrônicas assim como no processo técnico de gravação do disco. Scott Litt, tradicional produtor de uma série de discos anteriores deu lugar à Pat Mcarthy, que soube conduzir de forma competente a desilusão sonora que eles estavam procurando. O interesse na angústia celebrizada pelo Radiohead confirma-se com a mixagem do célebre produtor de "Ok Computer", Nigel Godrich. O lugar do baterista foi ocupado acima de tudo pelas batidas artificiais, com contribuições "em carne e osso" de outras figuras de reconhecida competência como Joey Waronker (Beck, Smashing Pumpkins) e Barrett Martin (Screaming Trees, Mad Season). Todos esses pontos combinados produziram um álbum melancólico e angustiado.

"Airportman" abre com batidas de drum machine e teclados de churrascaria, recheados de efeitos de guitarras e distorções de Peter Buck. Michael Stipe praticamente sussurra descrições sobre ambientes fechados e ambições da vida moderna. O clima é claustrofóbico e sereno, a música termina e fica parecendo que o disco ainda não começou. "Lotus" foi vendido como single, trazendo o ouvinte para algo mais próximo de um R.E.M. reconhecível. Ainda assim, a construção do arranjo em cima de teclados e de uma estrutura pouco óbvia deixa as coisas distantes de algo fácil como "Losing My Religion". "Suspicion" confirma a tendência do álbum em apostar nos arranjos econômicos com teclados e batidas para centrar o foco nas letras e nas linhas vocais amarguradas de Stipe. "Hope" flerta com uma anarquia interna, com um instrumental bizarro de batida a-la-Atari e uma distorção monocromática. "At My Most Beautiful" dá um tempo e revive os altos momentos de "Automatic for The People", com uma bela linha de piano (Mike Mills continua na banda!) e um poderoso acompanhamento de intrumentos e vocais. Reza a lenda que a letra foi escrita para o retirante baterista. "The Apologist" inicia uma série de canções deprê que ajudam a concretizar o conceito triste e introspectivo do disco. Os versos I'm sorry/I'm sorry fazem você acreditar que o cara está realmente fazendo jus ao título da canção, enquanto os outros dois músicos conseguem teimosamente reunir uma linha limpa de piano com uma sujeira de guitarras. "Sad Professor" mistura violões e guitarras roqueiras, sempre no clima down que contagia o disco. "You're In The Air" começa como se fosse um bolero, recheado de batalhas musicais entre guitarras e teclados, para então chegar a um acordo no belo refrão orquestrado. Aqui, como na maioria do disco, a música é quebrada, fugindo da estrutura convencional e experimentando diferentes estados de espírito num mesmo espaço. Os arranjos das faixas são inusitados, com guitarras e teclados que vêm e vão, hebriamente em dissonância com a condução principal. "Walk Unafraid" facilita um pouco, por causa de sua estrutura mais convencional. "Why Not Smile" é mais uma balada emocionante, com instrumentação simples mas com contrução que remete à momentos como "Nightswimming". "Daysleeper" faz as pazes com o estilo R.E.M. e mais uma vez privilegia o trabalho de Mills no piano. Uma bela balada que fala sobre o fato de pessoas trabalharem à noite e dormirem durante o dia. "Diminished" e "Parakeet" são climáticas, sendo essa última uma canção quase fúnebre com teclados exagerados e clima negativo. O disco termina com um lamento final, "Falls To Climb", assumindo mais uma vez a sonoridade artificial e mórbida que permeia a obra.

O álbum marcou uma nova fase na carreira do então trio, revelando o lado obscuro e amargurado que floresceu com as mudanças da época. Atitudes de inovação que antes eram aplicadas por simples prazer tornaram-se uma necessidade. Esse é o meu álbum preferido do R.E.M. por proporcionar a impressão de que as dificuldades e as torturas emocionais que podem ter acontecido naquele processo foram implacavelmente transferidas para a música. "Up", apesar do nome, é o mergulho mais sombrio que o R.E.M. executou em sua existência.



ouvindo: The Pixies - "Manta Ray".

15.9.03
 
Então tá. O Zwan acabou. Baixe a entrevista que Billy Corgan deu na televisão de Chicago e veja com seus próprios olhos. Tem que renomear o arquivo para ".MOV". Eu vou colocar algumas considerações mais para a frente, mas em um primeiro momento dá para apontar o bom senso do cara em encerrar seus projetos no tempo certo. Foi assim com os Pumpkins e assim com o Zwan.

ouvindo: Zwan - "Lyric".

12.9.03
 
"El Caminos In The West", do Grandaddy, tem até agora o refrão pop de 2003. Que música! Simples, doce e perfeita.

ouvindo: Grandaddy - "El Caminos In The West".

11.9.03
 
As lojas online brasileiras (Saraiva, Americanas, Som Livre e Submarino - onde consultei) estão oferecendo frete grátis na compra de seus produtos durante esta semana. Algumas novidades apareceram no mercado brasileiro recentemente, e mesmo que nem todas sejam do meu agrado, vale citá-las:

- The Raveonettes: "Chain Gang Of Love"
- Black Rebel Motorcycle Club: "Take Them On Your Own"
- Kings Of Leon: "Kings Of Leon"
- The Libertines: "Up The Bracket"
- A.R.E. Weapons - "A.R.E. Weapons"
- Mogwai - "Come On Die Young"
- V/A: "Yes New York" - coletânea com alguns dos "novos" nomes da tal cena nova-iorquina
- The Hives: "Your New Favorite Band"
- The Hives: "Barely Legal"
- Radiohead: "7 TV Commercials" - DVD que, na Saraiva, está listado pelo preço de R$ 70,00 - é mole?

Aproveitando o frete, talvez se encontre algum negócio interessante.

ouvindo: Black Rebel Motorcycle Club - "Stop".

10.9.03
 
Nem bem passamos pela metade de 2003 e as atenções já estão voltadas para 2004. Ainda não começaram as listas de melhores do ano, ainda não estourou o limite de anúncios de shows aqui no Brasil, ainda existem discos promissores a serem lançados. Mesmo assim, 2004 vai ser um ano inusitado por causa de duas notícias, uma confirmada e outra ainda no território dos boatos.

Segundo um artigo da MTV gringa, os Pixies podem fazer uma turnê mundial de reunião. A notícia surgiu na internet como simples boataria e toma proporções maiores em artigos como esse. A brevidade de informação, a impersonalidade da fonte, a suposta gravação de um novo disco e a falta de critérios com a qual alguns jornalistas espalham as informações por aí me deixam cabreiro, praticamente não acreditando. Mas como é legal especular e imaginar a situação com positividade, vamos nesse momento aceitar a possibilidade como viável, embora pouco provável.

Essa seria uma volta muito questionável, uma vez que estamos falando de uma banda cult, mãe de toda uma geração de músicos e até hoje reverenciada cegamente por fãs, críticos e músicos. Pixies é uma entidade, que soube sobreviver dentro de seu prazo de validade, pedindo as contas na hora certa. Mexer nesse vespeiro sem motivo aparente (que não as óbvias cifras astronômicas) seria delicado, embora igualmente empolgante para toda uma geração que não pôde visualizar os caras em ação. Levando em conta que o fim da banda não foi muito amistoso, que Frank Black construiu uma já consolidada carreira solo e que Kim Deal foi muito bem sucedida com as Breeders, imagina-se que artisticamente esses caras não se conectem mais, além de terem apreço pela reputação da banda. Essas mesmas midias já anunciaram como certa uma reunião do Faith No More, já deram como consagrada uma vinda do Tomahawk para o Brasil (esta última fruto de uma brincadeira de 1o. de Abril que tomou proporções surpreendentes). Mais feliz que os fãs ficaria a gravadora 4AD, que já raspou o fundo da panela e lançou tudo quanto é demo, compilação, ao vivos e lados-b que o Pixies poderiam oferecer. Já pensou as cifras nos olhos daquela turma ao contemplar um CD ao vivo e um DVD dessa suposta reunião?

Ainda mais delicada é a já confirmada turnê que Brian Wilson fará apresentando a versão ao vivo do controverso álbum-que-nunca-saiu "SMiLE". Eu nunca canso de escrever aqui que esse é o maldito disco dos caras que nunca saiu por uma série de razões e representou uma grande mudança na carreira dos caras, além de marcar o declínio psicológico de Brian. Quando anunciada o abandono do projeto, o cara refugiou-se em seu quarto, lá se entupindo de drogas e junk food (Elvis alguém?). Além disso, com sua personalidade paranóica no máximo, Brian chegou ao ponto de ficar praticamente incomunicável, imerso em suas paranóias e à anos-luz do planeta terra. Sua situação chegou ao ponto da família recorrer a um psiquiatra que, ao invés de impulsionar o ex-líder dos Beach Boys de volta à sanidade, exerceu controle sobre todos os seus passos por diversos anos, tranformando-no literalmente em um fantoche sem vontade própria e incapaz de esboçar qualquer lapso de personalidade. Podemos dizer que o cara não existiu entre 1967 e a metade dos anos 90. Praticamente 30 anos em incubadora. Quando se recuperou, passou a trabalhar em cima de seu nome com discos solos e apresentações ao vivo calcadas nos clássicos dos Garotos da Praia. Tudo dentro das limitações daquele recuperado senhor. Embora satisfazendo os fãs, há hoje uma grande indústria em cima da logomarca Brian Wilson que, entre os vários eventos, promoveu uma turnê do cara em que ele tocava de cabo a rabo o maior clássico dos Beach Boys, "Pet Sounds".

Os shows viraram disco (dollars anyone?), que por sinal dá a dica de como deverão ser os shows de 2004. "Pet Sounds Live" é cheio de ups e downs. Com a voz bem inferior e com a personalidade muito afetada pelos problemas que o atingiram durante 30 anos, Brian esforçou-se para entregar um show que lhe devolve a dignidade de ser o compositor daquela obra-prima, concedendo ao fã o registro de um momento nunca antes cogitado. Oportunista? Sim. Necessário? Não sei. Encantador? Sim.

O fato de "SMiLE" estar no alvo de Wilson para o ano que vem traz muitos questionamentos em relação ao mito que o álbum obteve. Suas pistas em relação a reviver o projeto vinham sendo sempre negativas nos últimos anos, reticentes. Aparentemete houveram sugetões de terceiros que levaram Brian a reconsiderar suas decisões, influenciando-no. A imensa sub-comunidade que respira o disco e gasta horas e horas teorizando em cima das gravações piratas de 1966 que estão por aí pode acabar se surpreendendo com o que Brian vai tocar em cima do palco. A grande dúvida no momento é: se Brian foi incapaz de concluir o disco no auge de seu talento, como poderá ele fazer a tarefa depois de todo esse tempo? Como garantir que aquilo que o sequelado Brian tocará corresponde ao que era exatamente o verdadeiro "SMiLE"?

Senhores, respostas a essas perguntas é uma fuga pela tangente. O que deve ocorrer em 2004 não propõe definições para o que a anos vem sendo questionado. Brian deverá tocar sua versão de um "SMiLE" contemporâneo, sem conclusões mirabolantes para os enigmas do disco. Esperem adaptações simples de músicas já desenvolvidas na época, como "Wonderful", "Wind Chimes" e a óbvia "Heroes And Villains" interpretadas pelo Brian que sobreviveu a todas essas crises e hoje está muito distante daquele garoto prodígio de 1966. Todos os movimentos que Brian efetuou desde que retomou a música foram sempre coerentes com suas atuais limitações. Embora extremamente melódica, sua música atual é simples, distante dos arranjos rebuscados de 1966. Na linha do que foi "Pet Sounds Live" e do que vem ocorrendo em seu trabalho recente, a turnê de "SMiLE" será um momento de celebração daquele trabalho. Eu tenho certeza que aquele senhor não consegue, e tampouco tentará, entregar a tão sonhada definição para a sinfonia adolescente para Deus.

Como não poderia deixar de ser, as expectativas correm em função de uma retomada do interesse em "SMiLE" por parte do mercado, que deve ser refletida através de um CD/DVD com a(s) performance(s) de Brian, além de um suposto lançamento por parte da gravadora Capitol de uma caixa com sessões de gravação e ilustrações de "SMiLE" aos moldes das caixas "The Pet Sounds Sessions" e "Good Vibrations: 30 Years Of Beach Boys". Confesso que, alheio aos interesses comerciais e à exploração ligadas ao cerne do evento, estou contando os dias para saber como isso vai terminar.

ouvindo: The White Stripes - "Who's To Say...".

9.9.03
 
Li no blog do Jonas que o Wilco não mais virá ao Tim Jazz. Isso coloca em cheque meus planos para conferir o festival, já que só vai sobrar o White Stripes e Los Hermanos para representar meus gostos nessa jogada. Como o White Stripes é bacana dentro de proporções normais e o Los Hermanos eu já vi duas vezes (segundo a banda, eles voltam a Porto Alegre ainda em 2003 - uêba) fica meio complicado para justificar a gastança.

O festival deve angariar muita gente em um espaço limitado, o que implica em ingressos inflacionados e correria braba. Se julgarmos que as bandas interessantes têm a chance de apresentar-se em dias diferentes, como era no Free Jazz, a conta fica ainda mais cara. E já que Beth Gibbons, Super Furry Animals e Lambchop têm o meu respeito mas não a minha profunda admiração, já estou meio que abandonando o barco. Esse lance de grana está cada vez mais complicado.

Isso toma proporções mais definitivas se formos julgar que segundo o rei do "diz que" Lúcio Ribeiro o Placebo vai aterrisar no país. Já pensou somar a quantidade de dinheiro com essas brincadeiras de adulto?

ouvindo: Helmet - "Rollo".

8.9.03
 
Setembrão:
- V/A: "Underworld" (02/09)
- A Perfect Circle: "Thirteenth Step" (16/09)
- Placebo: "Sleeping With Ghosts" edição especial (22/09)
- V/A: "Desert Sessions IX & X" (23/09)
- Nebula: "Atomic Ritual" (23/09)

Outubrão:
- Fantômas: "Delirium Cordia" (07/10)
- Mark Lanegan: "Here Comes That Weird Show"
- Eagles Of Death Metal: "Peace, Love And Death Metal"

Pergunto: quais dos itens acima verão lançamento em edição nacional?
Respondo: nenhum. O "Thirteenth Step" talvez, em um zilhão de anos.

ouvindo: R.E.M. - "Parachutes".

7.9.03
 
Fomos eu e o Alexandre na sexta passada assistir o show dos Walverdes no Escaler. A noite tinha tudo para rolar bem pois o calor que judiou durante o dia fez questão de adentrar a noite, convidando qualquer mortal com um mínimo de sinais vitais a ao menos tomar aquela ceva. O Escaler é um bar no bairro Bom Fim, reduto sem grandes estruturas do rock porto-alegrense. Os caras simplesmente baixam as portas de ferro, montam o equipamento on the ground e mandam bala. Sem luxos, na sempre divertida linha garagem.

Chegamos antes do negócio começar, e quando a primeira banda tocou, devia ter eu e mais umas quinze cabeças no recinto. Pena, porque o som dos Planondas é muito bacana. O som estava alto pacas, bem para quem é do nosso time que aprecia as distorções e os volumes no limite. Esqueci, mas devia ter abordado os caras para perguntar se eles estão vendendo algum CDzinho. A banda seguinte, os Tubarets, era mais um trio com um rapaz e duas garotas. Som sujito, bem na linha do que ia tocar na noite. Àquela altura o som altíssimo que antes soava um pouco massarocado melhorou um pouco, ajudando a rapaziada.

Mais algumas pessoas chegaram até o fim do segundo show, hora dos Walverdes entrarem na jogada. Acho que naquele momento tinha, no máximo, umas 50 pessoas no local. Os nossos amigos do Walverdes tinham aquele show como o marco para exorcizar o "Exú Tranca Ruas" que vem atormentando os tempos recentes deles. Disco que não sai do forno, problemas aqui e ali, show cancelado. A tarefa daquela noite era afastar o mau olhado na base do rock n' roll. "Keep Going" disse o vocalista Mini. Todos prontos, o pau sentou nas caixas e minha sexta-feira ficou um pouco mais feliz. Rolou "Anticontrole", tocaram "Viajando Na AM". O baterista Marcos espancava com carinho, o baixista Patrick segurava a onda com honras e todos ali tinham certeza que o demônio estava sim sendo exorcizado e catapultado para um conjunto de forró qualquer. Mas, lá pela quinta música, o baixo parou de ser escutado e o trio teve de parar a apresentação. Mexe cabo ali, troca de idéia ali, o cheirinho de queimado espalhou-se pelo Escaler e o Mini lamentou nos microfones: "Galera, desculpa aí mas o ampli do baixo queimou - fica para a próxima". E assim eu me mandei para casa, feliz com o breve gostinho que fiquei para ver os caras tocando com o Motosierra na próxima quinta-feira. Lá sim, o capeta sai nem que seja na base da porrada.

ouvindo: Mark Lanegan - "Where Did You Sleep Last Night".

5.9.03
 
Nessa sexta-feira tem Walverdes, Planondas e Tubarets lá no Escaler do Mercado Bom Fim.
Como diria o pequeno Michael Jackson: I'll Be There.

ouvindo: Wilco - "Kamera".

2.9.03
 
"Singles - Original Motion Picture Soundtrack" (1992): Parece mentira, mas houve uma época onde as grandes gravadoras lançavam trilhas sonoras com coerência artística, aliando músicos de renome com uma proposta sonora condizente com o filme. Longe da prática atual de reunir um ou outro artista consagrado e mais uma penca de ilustres desconhecidos, alguma trilhas sonoras conseguiram agrupar músicas relevantes que muitas vezes deram o ar de sua graça exclusivamente para aquele intento.

"Singles" saiu na hora certa, em meio à explosão musical do início dos anos 90. Veículos musicais a mil, as bandas alternativas tomavam as paradas e as atenções do público, movimentando dólares nunca antes cogitados pelas gravadoras. O ex-funcionário da revista Rolling Stone, então diretor de filmes, Cameron Crowe sentiu a oportunidade e filmou uma comédia romântica tendo como pano de fundo a efervescente cena de Seattle. Com uma história bobinha e que pouco se relacionava com o que estava acontecendo no momento (ao contrário do filme "Hype" que depois viria a traçar um documento a respeito do que ocorrera naqueles anos), Crowe foi esperto ao ponto de convencer alguns artistas de expressão a fazer pontinhas não-compremetedoras no filme, dando a impressão ao espectador que as coisas estavam acontecendo com simultaneidade, ajudando a saciar a ânsia por material que dali vinham. Além disso, teve a iniciativa de filmar a cidade, localizando as ocorrências do filme em parques, bares, pubs, cafés, condomínios, portos, saciando a curiosidade do espectador em torno de como era aquela meca do rock. Por essa grande sacada, o filme acabou mostrando os artistas em que todos estavam interessados naquele momento, fazendo aparições inusitadas no decorrer da película. Chris Cornell, Pearl Jam, Alice In Chains aparecem como personagens secundários ou fazendo trechos de performances. Lembro que fui assitir ao filme no cinema Baltimore em uma chuvosa tarde de férias, munido de minha camisa de flanela oficial.

Tamanha conexão entre artistas, diretor e proposta do filme resultaram em uma trilha muito superior ao resultado que o filme obteve. O CD reúne artistas selecionados, mesmo sem contar com o grande nome do momento (Nirvana), tocando faixas inéditas e exclusivas, dando à trilha um embasamento ímpar. Ao invés de reedições de canções antes lançadas, de músicas deslocadas do tema ou de qualquer porcaria de uma banda sem expressão, oferece-se um retrato de uma época, obtido com o aval dos que ali participaram. O Alice In Chains abre os trabalhos com a então inédita "Would", que roubou horas e horas de exibição da MTV (naquele tempo ela era muito legal) e dava uma prévia do que estaria em seu álbum subseqüente, o clássico da época grunge "Dirt". O até hoje queridão Pearl Jam meteu duas músicas na trilha. "Breath" remetia aos tempos do álbum "Ten", com aquele metal soft e melódico, soando até um pouco ingênuo se comparado com músicas que eles viriam a fazer no futuro (pensou em "Do The Evolution"?). É deles também "State Of Love And Trust", um clássico entre os fãs da banda que até hoje figura em um ou outro show dos caras, com suas guitarras mais pesadinhas e a empolgação do carismático Ed Vedder. O vocalista do Soundgarden Chris Cornell aparece com uma inusitada canção solo, uma balada com cara de demo ao violão, mas que acabou tornando-se sua melhor aventura fora do Soundgarden. Quem dera seu album solo de 1999 tivesse herdado a mesma inspiração que "Seasons" apresentou. Paul Westerberg entrega as duas faixas pop do disco, provavelmente encomendadas pelo diretor que precisava de um embalo alegrinho para as desventuras românticas de Matt Dillon e Bridget Fonda. Os Lovemongers fazem um cover ao vivo de "The Battle Of Evermore" do Led Zeppelin e assumem o momento baixo do disco. Uma canção dupla do já extinto Mother Love Bone presta tributo ao falecido vocalista Andrew Woods e induz o ouvinte a descobrir o que existia antes do Pearl Jam. "Chloe Dancer/Crown Of Thorns" é uma bela música ao piano, que constava também em versão editada no álbum "Apple". O peso pega com o Soundgarden e suja de vez com o Mudhoney. O primeiro deixa sua contribuição de neo-Black Sabbath e o segundo carimba o CD com a garageira que transformou o grunge em uma febre. Bem sacada é a inclusão de Jimi Hendrix, natural de Seattle e erroneamente dito "pai" da cena (musicalmente ele não tinha a menor relação com os pupilos, que viriam a ser novamente apadrinhados por Neil Young). "May This Be Love" traz um toque psicodélico-retrô. Perto do final, os Screaming Trees colaboram com a melhor música de sua carreira (que seria disponibilizada em seu disco "Sweet Oblivion"), "Nearly Lost You" é um hitzão que funciona até os dias de hoje. As guitarras pesadonas e a voz rouca de Mark Lanegan nunca soaram ao mesmo tempo tão perfeitamente rock e tão inspiradas como nessa faixa. O disco fecha a conta com "Drown", dos então emergentes Smashing Pumpkins. A faixa é um clássico, preferida de dez entre dez fãs do quarteto. As guitarras em estilo sinfônico em contraste com as microfonias, o frágil vocal de Billy Corgan, a produção de Butch Vig eternizaram a música. Chave de ouro para uma trilha respeitável.

Enquanto o filme utilizou de alguns esteriótipos e sacadas hollyoodianas para padronizar uma cena para as grandes massas, a trilha por sua vez serviu para oficializar um número de artistas que, naquele momento, recebiam todas as atenções do planeta. Unindo os interesses comerciais da gravadora com o interesse do público, a trilha de "Singles" mostrou ser possível unir música e imagens de forma coerente e com credibilidade. Empata com "Judgement Night" e "Lost Highway" na minha lista de preferidos.



ouvindo: Nebula - "To The Center".

 
Quer ler belas resenhas sobre "Hail To Thief"? Então já para a Dying Days.

Fabrício, Alexandre e Henrique deram seus pareceres sobre um dos mais escutados discos de 2003. Depois dessa, acho que o meu vai demorar alguns anos para sair...

ouvindo: Placebo - "Burger Queen".

1.9.03
 
Later... Louder! [DVD] (2003): Nós, pobres fãs tupiniquins de música somos constantementes frustrados. Já foi pior, é verdade. Hoje, com a nossa internet não perdemos mais para a gringalhada, temos as mesmas bandas e o mesmo material que os caras. Temos as MP3 que salvam a vida musical de muita gente, temos a informação. Com isso, a simultaneidade faz com que estejamos em sintonia com o que acontece no mundo musical, bastando ter curiosidade para encontrar.

Entretanto, quem gosta de um recheio, de algo mais, vai querer os itens que a indústria faz com todo carinho para que doentes como nós gastem seus míseros trocados em CDs ou outros itens comerciais. Capas caprichadas, coleções de discos, fichas técnicas, DVDs, itens que podem ser um grande fetiche para um colecionador de música. Olhar para a estande e identificar seus discos favoritos pode significar um grande sorriso no rosto, uma fonte de energia e motivação para enfrentar os árduos dias de trabalhador brasileiro. E, voltando à internet, a porra da tecnologia nos permitiu enxergar através da cerca da aldeia e visualizar um mundo de delícias análogo ao da Fantástica Fábrica de Chocolates. Itens feitos por gringos para gringos: singles em cartão, edições limitadas, reedições duplas, vinis, caixas... tudo está ali ao alcance de nossos olhos, mas longe de nossas mãos. Não bastasse essa melancólica ilusão, acessamos o site de nosso artista favorito e a lista de shows do cara passa loooonge da América Latina. Os ingleses e americanos brindados com shows e mais shows, até os australianos tiram as suas casquinhas. E nós, segurando um pincel, temos de abrir aquele sorriso amarelo quando ouvimos que o Deep Purple vai pisar na terrinha.

Uma grande irritação pode ser causada, chegando ao ponto de levar nosso humilde caboclo a desligar o computador, dar um tempo para seus CDs e ligar a TV. Afinal de contas, temos a Globo, temos uma programação de primeiro mundo. Vamos desopilar e nos contentar com nossa inferioridade financeira assistindo um programito. Hah! Liga-se a TV e dá-se de cara com Raul Gil, João Kléber e cia. Muda-se para os canais "jovens", os refúgios: MTV com Wanessa Camargo ou Detonautas para as massas, Serginho Groissman falando a língua da galera entre shows de Daniela Mercury e Sérgio Reis. Nosso triste espectador pensa consigo mesmo: "Putz! Quem dera houvesse um programa com meus artistas favoritos, tocando seus sons sem maiores interferências". Pois, digo-lhe, jovem herói, esse programa existe. É gravado e veiculado em Londres pela BBC (ha-ha-ha, longe, né?) e chama-se "Later With Jools Holland".

O programa, esclareçamos, passa no Brasil via TV a cabo no canal People & Arts, embora com assimilado atraso e irregularidade de exibição. Você não tem uma grade definida para saber qual artista está tocando naquele programa com antecedência. Isso significa que enquanto os ingleses estão assistindo a bandas recentes como, chutemos, Kings Of Leon ou The Raveonettes, você poderá estar assistindo a uma reprise de um programa com o Nirvana, que nem mais existe. Mas já é alguma coisa. O negócio do show é reunir artistas que estão com trabalhos recentes, as novidades em um único estúdio e dividir o tempo entre eles. Ao invés de entrevistas babacas, perguntas cretinas do público ou sorteio de prêmios, o apresentador e pianista Jools Holland limita-se a apresentar os artistas e fazer, às vezes, pequenas perguntas ou comentários. O tempo é aproveitado em quase sua totalidade com música. Ecletismo estabelecido, você pode encontrar em um único show artistas como o Slipknot dividindo os espaços com Blur e Allmann Brothers. Música de raiz convive com world music e rock alternativo. Muitos artistas de ponta, só aquelas bandas que você não cansa de escutar. Além disso, há um belo jogo de câmeras e todo um cenário temático, com artes baseadas no CD do artista que está se apresentando. Sem macaquices durante as performances, a música é entregue sem intermediários.

O DVD está em sua segunda edição e reúne artistas de rock mais alternativo, com performances que datam de 1993 a 2002. O cast, mesmo não sendo perfeito, é digno de reconhecimento. Temos o Foo Fighters abrindo o trabalho com "All My Life", seguido pelo Queens Of The Stone Age tocando o hit "No One Knows". Ver as performances com a bela produção que o programa oferece e o som cristalino de um estúdio é ótimo. "All I Know" é do último disco dos Screaming Trees e traz a participação do então guri Josh Homme nas guitarras, na época em que excursionou como guitarrista auxiliar dos caras. O Hives faz suas macaquices e mostra que performance e carisma são o seu forte. O Metallica toca uma da época do "Re-Load", agradando aos fãs e o Hole não fede nem cheira ("Celebrity Skin", a música). A performance do "Sonic Youth" é tri, sujona e certinha para quem não resiste às microfonias dos caras. O "At The Drive-In" literalmente quebra tudo e mais um pouco. Tem bandas recentes (B.R.M.C., The Vines, The White Stripes). Tem cults como a PJ Harvey (bela performance para "Big Exit") e o Mercury Rev. Dá para matar a saudade do Alice In Chains ("Them Bones") e curtir uma animalice com o Primal Scream. Enfim, muitos artistas de diferentes tendências mas com boa credibilidade postos lado-a-lado.

Então tá. Se até nisso a gente sai perdendo, o negócio é recorrer a esse DVD que foi milagrosamente editado em terras brasilis e assisti-lo nesse árduos momentos onde nem as pegadinhas do João Kleber nos confortam e sentir-se um pouco menos deslocado. É um bom apanhado e uma bela chance de se assistir pelo menos uma vez como algumas de suas bandas prediletas se apresentam ao vivo. Um documento bacana e bem diversificado.



ouvindo: The Beatles - "Penny Lane".