29.8.03
 
A escalação para o Tim Festival está muito boa, tenho de confessar. Os caras conseguiram reunir um número interessante de atrações como nunca antes o fizeram. White Stripes, Wilco (a confirmar), Rapture, Super Furry Animals, Los Hermanos... Deep Purple nem pensar! Acho que de todos esses festivais anuais, esse é o que mais agrupou nomes interessantes em uma única edição. Já é um bom motivo para eu dar uma economizada e, quem sabe, meter os pés na cidade maravilhosa mais uma vez. Uma única viagem para ver esse monte de coisas. Melhor custo-benefício impossível.

ouvindo: Radiohead - "I Am A Citizen Insane".

27.8.03
 
Queens Of The Stone Age - "Queens Of The Stone Age" (1998): Há certas coisas que atingem o final de seu ciclo e terminam com glória, deixando saudades e uma primeira sensação de que tudo passou muito rápido, de que não há motivos convincentes para que aceitemos esse final. Fãs de música sabem que as bandas e os artistas chegam em algum ponto de sua carreira onde tudo já foi feito e que a vida útil daquela proposta chegou ao fim. O artista está desmotivado ou simplesmente reconhece que é hora de pendurar as chuteiras ou pular a cerca, dando um ponto final a uma bem explorada carreira. A minha geração está acompanhando essas ocorrências em muitas bandas que balançaram os anos 90, como o Nirvana (tragicamente, é claro), Smashing Pumpkins, Pavement, Helmet, Faith No More e muitas outras que cumpriram com seu papel na música daquela década.

Em alguns casos, os integrantes remanescentes tiveram sucesso ao avançar sobre outras praias e justificar uma carreira solo ou o projeto de uma nova banda, satisfazendo os órfãos com propostas geralmente diferentes, embora igualmente recompensadoras. Mike Patton criou sua própria chacrinha musical, Stephen Malkmus continuou alegrando a turma com suas músicas, Dave Grohl apoderou-se do planeta Terra. Artistas que souberam justificar o fim de seus célebres trabalhos apresentando alternativas que apaziguam a angústia do fã e abrem um novo leque de possibilidades. Com o Kyuss, banda cult texana da década de 90, o caso não foi diferente.

O Kyuss surgiu emulando o som pesado dos anos 70. Seu primeiro disco, o vinil independente "Sons Of Kyuss", e seu primeiro CD, "Wretch" são odes à música de bandas como Black Sabbath e Blue Cheer. A influência do deserto texano aliado à natural diversão proporcionada pelas drogas ajudaram a forjar o som da banda, que definiu o chamado stoner metal, música pesada e maçante feita sob influência de ervas naturais e outras substâncias. Tenho um bootleg aqui em casa em que o vocalista John Garcia, num intervalo entre músicas, confessa ao público: "Eu não sei quanto a vocês... mas eu só quero é fumar um baseadão.". Então o Kyuss, dentro dessa ótica, criou pelo menos dois discos clássicos de música pesada: "Blues For The Red Sun" e "Welcome To Sky Valley". A banda atraiu para si um corja de maconheiros e de fãs de metal, conquistando uma base fiel de fãs e adoradores, principalmente na Europa (é incrível o número de seguidores em terras holandesas). Josh Homme, então guitarrista e principal cabeça compositora da banda era venerado, sendo capaz de criar um estilo próprio marcado pela afinação grave, riffs memoráveis, repetição robótica e frases no estilo "zunido de mosquito". Os caras chegaram ao seu fim após o CD "...And The Circus Leaves Town", deixando uma horda de fanáticos abandonada.

Homme, o centro da banda, passou uns tempos fora da ativa, vindo a tocar como membro de suporte dos americanos do Screaming Trees em sua fase final. Após algumas turnês, Josh passou a exercitar um hábito que tornaria-se marcante em sua nova fase: as jams com músicos do seu circuito. Reuniões em estúdios caseiros regadas a produtos químicos produziam canções às vezes experimentais, às vezes afilhadas de sua antiga banda. Longe de qualquer profissionalismo ou pretensionismo, os caras queriam era deixar o lance rolar, sem grandes compromissos com formações ou mesmo gravadoras. Ao aceitar a inserção de uma de suas faixas na coletânea "Burn One Up", da gravadora Roadrunner, Josh batizou o projeto de Queens Of The Stone Age e lançou mais dois singles, dentro da (hoje finada) gravadora do artista independente Frank Kozik (célebre criador de pôsteres de rock). O som? Uma retomada do stoner do Kyuss, revigorado com experimentalismos e influências mil, colaboração da troca de experiências com diversos músicos . Menos atrelado a rótulos, o flerte com sons mais contemporâneos e universais transformaram o primeiro disco dos caras no mais perfeito amálgama entre o que o Kyuss fez, suas influências e a novas tendências de Josh.

O disco abre com "Regular John", canção que dá a tônica do álbum. Riffs bem sacados, guitarras "mosquito", criatividade, vocal característico de Josh, que teve de elaborar o som em função de sua voz (Garcia era um belo vocalista no Kyuss). A música é até hoje figurinha carimbada nos shows da banda e pano de fundo para longas jams. "Avon" é reaproveitamento de uma faixa das Desert Sessions (aquelas jams...) e "If Only" é a prova de que inteligência, feeling e riffs podem caminhar juntos. Funciona que é uma maravilha. O disco é recheado daquele espírito de rock de garagem, de elevação desse estilo à sua capacidade máxima. "Walking On The Sidewalks" explora outra característica marcante das Rainhas, que é a repetição robótica como pano de fundo para estripulias guitarrísticas. Todo aquele peso acompanhado pelos gentis vocais de Josh. "You Would Know" tem mais mosquitinhos e sonzinhos de robôs, sugerindo a influência de ficção científica vintage. "How To Handle A Rope" proíbe o cidadão a ficar indiferente e explosões guitarrísticas se entrelaçam com longos momentos climáticos em "Mexicola". "You Can't Quit Me Baby" revive o Kyuss e convida o ouvinte a uma incansável jam (que no Rock In Rio III foi acompanhada por percussão de capoeira).

Tudo isso serve como marco inicial de uma banda que rapidamente conquistou seu lugar nos camarotes do rock. Utilizando-se de muita originalidade e propriedade, o álbum é o mais seminal da carreira deles. Embora não flerte tanto com estilos mais mainstream, ele pede passagem e estende um paninho de tecido para quem estava chorando a aposentadoria do Kyuss, consolando o coitado e assegurando-lhe de que Sr. Josh Homme ainda tem muito o que explorar.



ouvindo: Clinic - "Walking With Thee".

26.8.03
 
Queens Of The Stone Age - "Rated R" (2000): Ao início da década, o rock passou a dar alguns suspiros nos ouvidos do público mainstream, aos poucos tomando espaço das revistas do gênero para vir a ser oferecido novamente como produto vendável em 2001. Foi em 2000 que a crescente evolução da internet passou a influenciar diretamente no consumo de música, com a consagração do Napster e a divulgação de novas bandas e artistas através dos arquivos MP3. Em intervalos de dias, novos artistas passavam a ser garimpados, sugeridos e indicados por midias eletrônicas, grupos de discussões ou colegas virtuais, sendo espalhados de uma forma inédita, veloz e eficiente. A busca pelo novo, pela última tendência, pelo disco do instante passou a ocupar o cotidiano do adorador de música como nunca havia sido antes, de tal forma que hoje é praticamente impossível ter todas as bandas de destaque em um único escopo, por mais que se tenha acesso à informação.

Curiosamente, foi uma dupla-projeto enraizada no passado que deu a luz a um dos melhores discos de rock daquele ano, reafirmando as expectativas naquele gênero e concretizando uma nova geração de músicos que, independente de sua real importância, solicitariam as atenções para si. Em meio às mais variadas vertentes sonoras que estavam a surgir, o então desconhecido Queens Of The Stone Age seria o grande representante do tão falado metal stoner, gênero imortalizado pela banda texana Kyuss, que contou com a principal figura do QotSA, o guitarrista Josh Homme. O gênero stoner já era bastante estabelecido no meio underground, representado desde os anos 90 pelo citado Kyuss e por outras bandas como Monster Magnet, Nebula e Fu Manchu, não implicando na obrigatoriedade de algo novo naquela vertente. O que o QotSA fez naquele momento foi representar de forma impecável toda a sua influência stoner, grunge e sabática dentro de um panorama mais geral, ao alcance de ouvintes acostumados a rock mais mainstream como o do Foo Fighters. Para um público para o qual as falsas rebeldias representavam muito (Limp Bizkit), "Rated R" foi o álbum que novamente colocou o rock de verdade nos trilhos, chegando a ser aclamado pela midia como o "novo Nevermind".

Usando suas influências de música pesada dos anos 70, mesclando-nas com a identidade proposta em seu álbum de estréia e polindo o material com características major, Josh e seu fiel colaborador, o produtor Chris Goss, souberam equilibrar na medida certa um disco em alguns momentos experimental, em outros roqueiro e em outros ensandecido. O revival das qualidades dos bons discos de rock acontece na integridade do álbum: peso, punch, descolagem, inteligência, mensagens politicamente incorretas, inconseqüência, uso coerente de influências, talento e bagaceirada em geral. A rebeldia de balcão, a preguiça mainstream e a busca pelo sucesso fácil foram automaticamente soterradas por um disco feito por pessoas que vivem o rock e o tem presentes em seu organismo.

"Rated R" começa com um hino rocker que representa exatamente aquilo que escrevi anteriormente. "Feel Good Hit Of The Summer" tem uma base marcada de uma só nota, baixo e bateria de mãos dadas e o intermitente verso, cru e direto, Nicotine, valium, vicodin, marijuana, ecstasy and alcohol. A idéia repete-se de forma a criar um clima que explode nas guitarras ensurdecedoras do refrão mais famoso da década: c-c-c-c-c-cocaine!!!. Pronto. Os caras acabaram de dizer a que vieram, tanto no espírito como no som. "The Lost Art Of Keeping A Secret" tomou as paradas por assalto, uma faixa com potencial radiofônico que remete um pouco ao grunge e tem toda a integridade necessária para preservar a banda. Artigo de luxo para os magazines populares. "Leg Of Lamb" brinca com melodias tortas para então apaziguar as harmonias no refrão (note os backing vocals). "Autopilot" é a primeira aparição do baixista Nick Oliveri no disco, a segunda-metade do QotSA. Nick aparece um pouco descaracterizado em uma música magnífica, que nos shows adquire status ainda maior com a participação do soturno vocalista Mark Lanegan (ex-Screaming Trees). A bateria levada e o riff suingado entram em conflito com a frase gritada de guitarra, marca registrada de Homme desde os tempos de Kyuss. Talvez a música que mais admiro na discografia dos caras. "Better Living Through Chemistry" te tira do solo e institui a lisergia dos anos 70 na nova década, com climas espaciais e "sobre efeito", sem deixar margens para outras interpretações. "Monsters In The Parasol" já havia aparecido nas divertidas Desert Sessions, projeto de Josh e seus amigos, mas aqui ela é regravada de forma mais rápida e encorpada. Um rock de escutar nos últimos volumes. "Quick And To The Pointless" (com direito a acompanhamento feminino bem sacado) e "Tension Head" são obras de Oliveri, faixas que imprimem com perfeição o lado punk e animalesco do baixista. Influências de Dwarves e Turbonegro são aplicadas ali, dando o caráter tosco que o disco precisa. "In The Fade" é outro de meus momentos prediletos. O já citado Lanegan se junta à trupe para sussurrar seus vocais cavernosos em uma melodia sensacional, dotada de muitos efeitos e feeling. Depois de uma instrumental baixa-a-bolinha ("Lightning Song"), os caras enveredam em uma faixa de experimentação em que aspectos do primeiro disco são reaplicados. "I Think I Lost My Headache" flerta com repetição e instrumentos inusitados, solicitando ao ouvinte um pouquinho de sua atenção às brincadeiras stoner.

O disco não só atirou o Queens Of The Stone Age nos ouvidos das pessoas como deixou espaço para que se apostasse fichas na grandiosidade que o grupo viria a ter. Os caras acabaram se superando ao lançar o disco seguinte, deixando "Rated R" com um caráter menos relevante que na verdade tem. O disco é a primeira amostra de como Josh e Nick conseguem trazer suas influências para um terreno mais acessível, sem que isso vá contra sua integridade artística ou manche sua reputação junto a seu público fiel. Além disso, é uma afirmação de que o talento dos caras se supera a cada nova etapa e a certeza de que um trabalho de base estava sendo conduzido. Um discão para se ter na mesinha de cabeceira.



ouvindo: Mojave 3 - "Return To Sender".

 
Um post do Edilson sobre o Helmet me fez resgatar meu "Betty" do limbo. Encontrei-no na minha estante e ontem joguei-no à noite no som para desentupir os ouvidos, disco esse que eu não apreciava a pelo menos uns 6 anos.

É incrível constatar como esses caras correram em paralelo na época, fazendo uma música ao mesmo tempo pesada e requintada. Muitos dos elogios que a banda recebia em 1994, ano em que "Betty" saiu, não eram totalmente assimilados por mim, que na época colocava tudo quanto era banda pesada no mesmo saco. Mas escutando hoje, depois de analisar bandas e mais bandas, consigo perceber o que o Helmet tinha que o transformou em banda cult. Page Hamilton elaborou um som muito particular, aquela famosa mistura de sonoridades jazzísticas com um peso extraordinário. As melodias elaboradas, não-convencionais convivem harmoniosamente com o peso monolítico que a banda forjou. "Betty" é uma pauleira só, as paredes de guitarras e a bateria são monstruosas, se contrapondo aos vocais de Page que são muitas vezes tímidos e suaves.

Foi um CD que, após todo esse tempo, continuou soando novo para mim, refrescante. Esses resgates do limbo normalmente nos trazem sensações requentadas de nostalgia, que servem para aquele momento de lembrança. Mas no caso de "Betty", a ordem foi urgência, alívio em descobrir que ainda há muito o que explorar no som do Helmet.

ouvindo: Helmet - "Wilma's Rainbow".

25.8.03
 
Queens Of The Stone Age - "Songs For The Deaf" (2002): Esse disco é, acima de todas suas qualidades, eficiente. É um dos poucos que eu tenho certeza absoluta que levaria para a infame ilha deserta. Em todos os aspectos que você possa abordá-lo, você vai chegar à conclusão que não tem como não curvar-se à excelência de Josh Homme e considerá-lo o melhor roqueiro desde Kurt Cobain. Não tem como.

É um disco que prometia desde o momento em que seu embrião passou a ser maturado, quando o ex-Screaming Trees Mark Lanegan juntou-se às Rainhas da Idade da Pedra na turnê európéia em 2001. O que vinha acontecendo em reuniões casuais passou a ser oficial - Lanegan passara a ser membro efetivo do cast (ôba!). Na verdade, os discos anteriores "Queens Of The Stone Age" e "Rated R" já tinham sido uma redenção para quem está sempre procurando aquele disco de rock que justifica o investimento, que agrada mesmo, que é como o freguês gosta. Na verdade, o Kyuss, banda anterior de Josh e do companheiro Nick Oliveri já havia cravado sua importância na história do rock pesado dos anos 90. Então o caso aqui é de artistas abençoados, bebedores da famosa água benta texana que nos dá outros artistas como o Polyphonic Spree, o Lift To Experience e o Trail Of Dead. Só que, observe, são mais de 10 anos de atividade em que Homme só acertou o alvo.

Eis que o que já estava bom tomaria proporções históricas quando o boca-grande Dave Grohl começou a espalhar que estava dando umas voltinhas no estúdio onde o novo álbum estava sendo feito e que tinha tocado bateria em umas duas músicas. "Uau! O ex-baterista do Nirvana volta às baquetas!". Alguns meses depois a informação não só confirmaria a mão de Dave como complementaria que sua participação tomaria o álbum todo. Holofotes ligados com força máxima, "Songs For The Deaf" sai do forno e todas aquelas bandas trabalhadas pela mídia naquele período são automaticamente reduzidas a pó. Os caras conseguiram nos surpreender de novo. Mais uma vez.

"Songs For The Deaf" tinha tudo para ser um disco em que a música assume papel secundário. A escalação de dream team poderia muito bem ofuscar o trabalho e justificar as atenções ao álbum. A nova exposição que a Interscope Records passaria a dedicar à banda caracterizava o oportunismo, o consumismo em função dos fatos secundários ao invés da música. Mas, como diria o peão de obras aqui da empresa, "não tem perigo". Quando falamos de QotSA, lidamos com uns caras que gostam muito de cheirar, fumar, beber, curtir umas minas peladas e tocar muito alto. Justamente o chavão clássico do rock. Entretanto, esse espírito rock n' roll lisérgico e pesadão reflete perfeitamente em sua música, as suas influências são perfeitamente sintetizadas nos resultados e os caras conseguem produzir sonoridades que mesmo nem tanto inovadoras, adquirem uma originalidade e eficiência ímpares. E "Songs For The Deaf" é toda essa síntese do que esses caras foram desde os tempos do Kyuss, reelaborada à perfeição para o agrado de todo o ser humano que gosta de rock. É a síntese de um disco de rock perfeito.

Conceitualmente, o álbum emula a trilha sonora de uma viagem de carro, onde as músicas são intercaladas por vinhetas que emulam locutores de rádio, trocas de estação e discursos evangélicos. O ritmo é desenfreado, dos primeiros segundos de "Millionaire" até o final de "A Song For The Deaf", o ouvinte é submetido a uma montanha russa infernal, um buffet de variadas influências que o proíbem de pressionar stop antes que o disco tenha terminado. Como evitar uma chacoalhada, uma bateçãozinha de cabeça na seqüência "Millionaire"/"No One Knows"/"First It Giveth"?
"A Song For The Dead" confirma que a participação de Dave Grohl transcede os motivos mercadológicos para reafirmar sua qualidade impecável como baterista, dando ao disco toda a competência que um baterista precisaria dar. A lisergia dá as caras, seja nos vocais "sob efeito" de Josh ("The Sky Is Falling"), seja nas influências do peso mórbido do velho Sabbath ("A Song For The Deaf"). Nick Oliveri consagra seus punkzões inconfundíveis ao dar vida nova a "Millionaire", um original do projeto Desert Sessions e ao antecipar o flerte com sonoridades pop que depois se concretizariam em seu projeto Mondo Generator ("Another Love Song"). E é claro, mete o coturno na porta em "Six Shooter". O disco ainda tem espaço para louváveis hits com tendências radiofônicas como o quase-ska "No One Knows" e o primor "Go With The Flow", sem que isso signifique perda de qualidade ou venda da alma para o capeta. A presença de Mark Lanegan oferece mais brilho ao disco, concedendo-no ainda mais recursos de exploração. Sua característica voz preenche de forma obscura a regravação de "Hangin' Tree" e possibilita o amálgama entre vocal inacessível e sonoridades digeríveis em "God Is On The Radio" (isso porque não vou tocar no assunto dos shows, em que Lanegan retorce músicas como "Autopilot" e "Walking On The Sidewalks" de forma inesquecível). A tal faixa escondida "Mosquito Song" corre em paralelo, como que um momento de relax na fogueira depois de uma inesquecível viagem pelo deserto. Ao final da canção, não nos resta outra alternativa a não ser pressionar play mais uma vez, assim como fazem as crianças ao repetir a dose no trem-fantasma.

"Songs For The Deaf" sintetiza toda a carreira do QotSA, impulsionando novidades como Grohl e Lanegan, dando a tão sonhada nova vida ao rock. É o disco mais rock dos últimos anos e por mais que se procure não se encontrará outro tão eficiente. Está na lista dos melhores de todos os tempos de muita gente. Conquistou alternativos, metaleiros, posers, a minha namorada, o meu avô e até o presidente da república. E sem que isso abale o prestígio que a banda recebeu. É o álbum para se levar à ilha deserta, repito. E isso é passível de ser concluído logo que o CD começa.

PS.: Eu cheguei a conclusão que esses caras são uma exceção na minha maneira de ver música. Sempre apoiei a mudança como prioridade na carreira de uma banda, o experimentalismo como princípio básico da evolução de um artista. Nesse caso, eu abro mão dessa convicção e declaro que Josh & cia. podem se reunir à vontade e gravar quantos "Songs For The Deaf" eles quiserem. Mesmo que venha mais-do-mesmo pela frente, é o tipo de prato que eu sempre vou querer repetir.



ouvindo: Queens of The Stone Age - "Wake Up Screaming".

22.8.03
 
Tive uma semana de gripe forte e trabalho pesado.

E "Sumday" do Grandaddy é mesmo um puta disco.

ouvindo: Grandaddy - "I'm On Standby".

18.8.03
 
James Iha - "Let It Come Down" (1998): O ano era 1998 e a banda titular desse americano-oriental, os Smashing Pumpkins, eram os maiores representantes do rock mainstream-alternativo. Donos de uma reputação inabalada naquele período, os Pumpkins arrebatavam multidões para seus concertos, suas músicas tocavam em tudo quanto era canto e seu álbum duplo vendia feito água. Nem a interrupção da turnê ocasionada pelo caso de overdose do tecladista Jonathan Melvoin foi capaz de tirar do quarteto as expectativas da confirmação ou não do status de maiores artistas daquela década.

Enquanto Corgan, com seu famoso autoritarismo, passava a dar dicas das novas tendências eletrônicas que viriam a integrar os sons de uma das bandas mais guitarreiras dos anos 90, os outros membros aproveitaram o tempo de férias para cuidar de seus próprios interesses. O expulso Jimmy Chamberlin foi dar um jeito em seus hábitos químicos, a baixista D'arcy Wretzky deu um tempo, mas o introvertido James Iha tratou de encaminhar seu primeiro (e único até o momento) disco solo. "Let It Come Down" saiu naquele ano com grandes expectativas por parte da gravadora que imaginava vender discos em cima do sucesso dos Pumpkins, dos fãs que queriam mais ecos do multiplatinado "Mellon Collie And The Infinite Sadness" e da mídia que estava em polvorosa especulando em cima do que viria a ser "Adore", o disco subseqüente dos abóboras.

O disco, por sua vez, acabou não confirmando nenhuma dessas expectativas, não se encaixando exatamente em quaisquer das exigências previamente estipuladas. James, uma figura ao mesmo tempo secundária mas extremamente carismática, pouco havia delineado o som dos Pumpkins até o momento da edição da caixa "The Aeroplane Flies High". Invariavelmente eclipsado pelo líder Corgan, o rapaz tinha entre 1988 e 1995 apenas uma co-composição com o então cabeludo líder ("I Am One") e duas faixas de sua autoria reveladas a público ("Blew Away" e "Take Me Down"). Isto até o momento em que a caixa de sobras daquele período fértil chegou às lojas. Ali James mostrou um bom potencial para escrever canções, suplicando aos fãs mais espaço dentro da banda para revelar seu trabalho. Suas composições atravessavam desde territórios tradicionalmente Pumpkins ("The Boy") até acabar em sua marca registrada, as doces ou angustiadas baladas mezzo-folk ("Said Sadly", "Believe", "The Bells"). É de sua responsabilidade a aclamada cover para "A Night Like This" do Cure, um dos principais momentos da caixa.

E é dentro dessa visão de cara introvertido timidamente pedindo espaço para tirar suas canções do bolso que o álbum se apresenta. "Let It Come Down" é unicamente permeado de sonoridades folk, remetendo principalmente ao nome de Nick Drake. Com produção muito suave, distante da magnitude que suas canções da caixa obtiveram na parceria com Flood, as faixas mostram-se simples baladas ao violão incrementadas com suaves toques de piano, percussão e cellos, algo que já era característico em suas canções anteriores. Entretanto, nem a mão de Jim Scott na mesa de som nem as participações de camaradas como D'arcy, o baterista Matt Walker ou Adam Schlesinger (Fountains Of Wayne) foram o suficiente para imprimir ao disco a personalidade necessária para justificar uma maior atenção aos resultados. O álbum passa por doces baladas ("Be Strong Now", "One And Two", "Country Girl"), popzinhos folk ("Beauty", "Jealousy") e momentos um pouquinho mais angustiados ("Silver String", "Winter", "No One's Gonna Hurt You"). Nada que um Mojave 3 já não tivesse feito com mais personalidade. Mesmo assim, torna-se possível encontrar boas melodias e uma combinação simples porém eficiente de diversos instrumentos. Um disco aceitável, propício para momentos mais dolorosos ou românticos do ouvinte porém longe de qualquer feito arrebatador. As atenções ficaram, diante do efeito reduzido do disco, voltadas para o CD que estava para sair em sua banda principal. Foi um álbum digerido basicamente por fãs dos Pumpkins, embora o público ao qual ele foi direcionado talvez tenha sido outro.

Complementando o disco, o single para a faixa "Be Strong Now" oferece mais três canções que, em termos de resultados, chegam até a superar as titulares. Entretanto, por se distanciarem um pouco da unicidade do disco, acabaram sendo relegadas a lados-b (e, claro, a gravadora queria faturar em cima de um single).

"Let It come Down" não deve ter vendido como água, embora tenha sido milagrosamente editado no Brasil, não supriu exatamente as expectativas dos fãs de seu trabalho nos Pumpkins e tampouco deu pistas do que poderia vir a ser o novo álbum de sua banda. Também não exerceu grandes influências que situassem o guitarrista como um destaque, justificando uma grande carreira solo. Serviu, entretando, para localizar o trabalho de James dentro de uma sonoridade que combina exatamente com sua personalidade tímida e, digamos, aparentemente sensível. Deixando suas influências nuas e oportunizando a oficialização de suas particulares canções, James encontrou a chance para fazer as suas coisas ao seu jeito. E foi exatamente o que fez.



ouvindo: Frank Black - "Out Of State".

17.8.03
 
Consumistas de Porto Alegre: as lojas Multisom estão com vários títulos da Trama a disposição em seus tradicionais balaios de 10 pilas. No Iguatemi encontrei Yo La Tengo, Morphine, Meat Puppets, Belle And Sebastian e Hives. Comprei o disco de covers da Cat Power. E vi também aquele tal de Electric Six na mesma promoção, mas sinceramente, preferi gastar R$ 4,00 num milk-shake do Bob's e guardar R$ 6,00 no bolso. Procurei mas não encontrei CDs do Pavement ou do Malkmus e segundo o cara da loja eles até tinham (acho que o cara estava trovando). Nessa semana, se der, vou dar uma passada no Praia de Belas para conferir. E se alguém encontrar alguma coisa legal na Rua da Praia por favor me avisa (acho que aquele balaio da Multisom da Esquina Democrática é o maior de todos).

ouvindo: Whirlwind Heat - "Pink".

15.8.03
 
Complementando meu último post, queria apenas frisar que meus comentários a respeito dos Walverdes não objetivavam, em momento algum, um desrespeito ou uma tentativa de menosprezar os êxitos alcançados por "Anticontrole". Vejo exatamente o contrário, vejo os caras e todos os outros artistas independentes como verdadeiros heróis, pessoas corajosas que investem em algo que as satisfaz. O trabalho deles é muito bom e digno de reconhecimento. Meu intuito foi, na verdade, demonstrar minha surpresa em constatar que trabalhos tão legais como o "Anticontrole" e o do pessoal da Monstro não têm em termos numéricos o volume que eu julgo proporcional à bela qualidade dos seus trabalhos. Mas, mais uma vez, não sou especialista em números, não tenho informações das entrelinhas do mercado, o que pode implicar em opiniões equivocadas de minha parte.

Falando nisso, os Walverdes tocam nesse final de semana aqui em Porto Alegre. Sábado, no Espaço Tear.

Ah, e "Anticontrole" está na fábrica, sendo re-editado. Segundo a banda, pinta no final deste agosto. Com os votos de que essa seja a primeira de muitas reedições desse belo CD.

ouvindo: ... And You Will Know Us By The Trail of Dead - "Mach Schau"

14.8.03
 
As dimensões da aldeia: Em meio a nossa avalanche de informações e troca diária de opiniões, as coisas acabam tomando proporções muito particulares em nossa mente. Assim como eu tenho bandas imaculadas no cast de preferidos, muitas indicações de discos sensacionais que recebo acabam por não corresponder com as minhas expectativas. Tá certo, é gosto. Mas mesmo dentro de comunidades de pessoas incrivelmente identificadas, temos aí artistas e opiniões que colidem e não correspondem da mesma forma para diferentes pessoas com semelhantes gostos musicais. Na mailing list da Dying Days é assim. A turma até se parece bastante em identificação, principalmente na maneira como escolhem seus favoritos, driblando muita jogada de marketing da mídia. Mas invariavelmente eu encontro alguém com uma opinião exatamente oposta à minha em relação a uma banda ou a um disco.

Nessa troca incessante de sugestões, alguns artistas acabam recebendo mais destaque. Smashing Pumpkins, Radiohead, Trail Of Dead, Queens Of The Stone Age são alguns que dificilmente são declinados dentro dessa comunidade e de outras que não necessariamente têm o mesmo perfil. São bandas que caem no gosto dos ouvintes, se espalham no boca-boca, nos blogs e nas listas. São quase unanimidade, criando vida própria mesmo quando a mídia os deixa em períodos de entressafra. Acontece então que esses caras passam a tomar proporções bastante significativas, sendo comentados em tudo quanto é canto. Com a imagem deles pra lá de construída em nossa percepção, temos a impressão de que os discos deles devem vender um bocado, que o êxito comercial é garantido e que milhares de pessoas fizeram a mesma coisa que você: correram até a loja e compraram o disco no dia em que saiu. Afinal de contas, estão na capa da NME, na Rolling Stone, na Mojo e até no Vaticano.

Pois bem, com a lei da numeração, as coisas passaram a ficar mais transparentes. Pelo menos para nós brasileiros, que consumimos muita cultura estrangeira e temos dificuldades para adaptar o cenário estrangeiro na nossa realidade, principalmente hoje em dia com a simultaneidade da internet. Se você, como eu, vivia curioso, se perguntando quantos outros brasileiros compraram um determinado CD, agora a indústria responde para você.

Uma banda muito legal daqui do sul, os Walverdes, que tem mais de 10 anos de estrada e teve seu último CD, "Anticontrole", recomendadíssimo por Fábio Massari no Jornal da MTV, é um exemplo. Sempre achei que, com os diversos elogios da mídia ao disco e a sua gravadora, a Monstro Discos, os caras tivessem uma vendagem legal no cenário alternativo. Digamos, umas 2.000 pessoas teriam comprado o disco. Afinal de contas, pô, após todo esse tempo e com o apoio que o cenário deu a coisa aos poucos devia alcançar o público. Qual não foi minha surpresa ao saber que a prensagem do disco limitou-se a 500 CDs. Cara, isso é muito pouco. É eu e mais 499 caras. Não que eles tenham vendido mal, mas o que me surpreendeu foi o tamanho do mercado, o número de pessoas que efetivamente compram discos no país. Puxa, o CD custa uns R$ 12,00 e mesmo assim levou um tempão para esgotar 500 discos. Alguém do ramo pode me dizer que estou errado, que o número foi excelente mas como consumidor, descobri que estou enganado em relação ao alcance da mídia e dos valores que percorrem o mercado.

Peguei então meus CDs que já estão numerados para conferir suas prensagens. Com exceção de "Construção", todos foram adquiridos no ato do lançamento, primeira prensagem:

Metallica - "St. Anger": AA16000
Radiohead - "Hail To The Thief": AA0015000
Jane's Addicition - "Strays": AA0003500
Grandaddy - "Sumday": AA0001000
Los Hermanos - "Ventura": AA0030000
Chico Buarque - "Construção": AA3000
Prot(o) - "Prot(o)": AA0001000
The Eternals/Hurtmold - "The Eternals/Hurtmold": AA0001000
M. Takara - "M. Takara": AA0001000

Nota-se que as expectativas das gravadoras, influenciadas também pela pirataria, são modestas. Metallica e Radiohead, alvos de marketing massivo e de repercussão mundial têm números iniciais bastante conservadores. Los Hermanos, por outro lado, é o campeão da lista acima, artista com mais expectativa por parte da indústria. Os independentes mostram-se, se analisarmos as proporções de um Metallica, bastante seguros de suas capacidades, fazendo frente e investindo de verdade nos seus artistas. De tirar o chapéu para os caras. A grande surpresa foi o Grandaddy. Seu "Sumday" é figurinha carimbada nas listas de melhores do ano e a Sum segurou a onda em 1.000 discos. Mesmo sendo lotes iniciais, que devem ser supridos por subseqüentes assim que as vendas são concluídas, as grandes gravadoras têm mostrado precaução na hora de investir nos lançamentos. E o mercado mostra o seu tamanho, nos dizendo que os vilarejos virtuais são ainda menores do que imaginamos. Na real, toda essa gama interminável de bandas legais que conhecemos e que estão estampadas nas mais respeitáveis publicações e programas de tevê são uma pequena partícula do mercado brasileiro.

ouvindo: Tripping Daisy - "Rocketpop".

12.8.03
 
Coldplay no Brasil: Atenção pessoal de Porto Alegre! Uma amiga minha está organizando junto à Rádio Ipanema uma excursão que sai da terra amada até São Paulo. O ônibus sai na terça, 02/09 e retorna na quinta, 04. Esquema bate-volta, ingresso e transporte incluídos. Quem tiver interesse, ligar (51)9688-0352 com Laura ou Anne.


ouvindo: Foo Fighters - "Low".

11.8.03
 
Tem muita coisa que promete para esse segundo semestre:

- Mark Lanegan: "Here Comes That Weird Show" EP (setembro)
- Mark Lanegan: o disco subseqüente (quando? não sei)
- Desert Sessions IX & X (final de setembro)
- The Eagles Of Death Metal: "Peace, Love And Death Metal" (também não sei)
- A Perfect Circle: "Thirteenth Step" (16/09)
- Nebula: "Atomic Ritual" (23/09)
- Fantômas: "Delirium Cordia" (início de outubro)
- Enemy: (projeto do guitarrista do QotSA e APC Troy Van Leeuen)
- V/A: "Underworld" (trilha sonora com APC, Reinholder, Dillinger Escape Plan, Page Hamilton, entre outros)

E tem singles novos saindo do forno de QotSA ("First It Giveth"), Radiohead ("Go To Sleep"), Interpol ("Black EP") e Placebo ("Special Needs").
Muita coisa. Nenhum dinheiro.

ouvindo: Grandaddy - "The Warming Sun"

 
O Fabrício deu a dica e estou conferindo nesse momento:
Jane's Addiction - "Strays"
Taí mais uma banda que eu dava como morta e enterrada. Quando ele me disse que o disco valia a conferida eu confesso que fiquei com o pé atrás. Afinal, o Perry Farrell não me convenceu com o Porno For Pyros. O Dave Navarro não rolou legal nos Chili Peppers, seu disco solo eu não ouvi (alguém ouviu? Como é?) e até videoclipe com a Mariah Carey o cara trampou. Com a credibilidade manchada, essa volta tinha todos os pretextos para justificar acusações de comercialismo e faturamento fácil. Afinal de contas, se quando o JA se separou eles estavam no ponto certo para faturar, por que diabos esses caras voltaram mais de 10 anos depois de seu aclamado "Ritual De Lo Habitual"?

A resposta é a seguinte: os caras ainda conseguem, reunidos, reviver a química que transformou a banda em algo muito particular. Sim senhor, esses caras são mais um exemplo de artistas que só funcionam plenamente quando trabalham juntos, sendo incapazes de chegar à altura em seus outros trabalhos. Por mais irrelevante que um disco desses possa parecer depois de todo esse hiato, "Strays" me surpreendeu e me convenceu que ainda existe gente fazendo rock animalão. Sem poder contar mais com o status de malucões que os distinguia em seu auge, tiveram eles de investir pura e simplesmente no seu som para convencer-nos. Para tanto, temos aí uma gravação poderosa, com uma guitarra inconfundível de Navarro, aquela mesma que deixou saudades. Peso, capricho instrumental e uma interessante e interminável mistura de tendências sonoras fazem de "Strays" um álbum de retorno garantido. Sem compromissos com porra-louquices, Farrell está mais consciente da condição da banda, encaixando com mais humildade seus inconfundíveis vocais. A banda soa madura e competente, fazendo do disco uma celebração do que o Jane's Addiction sempre foi.

Em tempos de bebês rockstars com muita pose e pouco conteúdo, os velhões uniram o útil e o agradável para provar que às vezes a experiência pode ter algo bom a oferecer. Assim como esse disco não vai ser um dos destaques do ano, pode confiar que ele ao menos tem vantagens boas a oferecer. Às vezes é mais negócio o bom e velho arroz e feijão da mamãe do que aquele pratinho sofisticado. Até porque já estou meio de saco cheio de me decepcionar com "artistas da vez".

Outras novas: quer ver o James Iha com os caras do A Perfect Circle?

Deu coceira na mão para correr atrás do disco novo, não? É, em mim também.

ouvindo: Jane's Addiction - "Just Because"

8.8.03
 
No carro, atualmente:

The Beach Boys - "Pet Sounds" - K7 de 90 minutos.
Reúne o "Pet Sounds", o lado B "Hang On To your Ego" e uma versão do "SMiLE" segundo um fanático pelo enigmático álbum.



lado A:
* Pet Sounds:
- Wouldn't It Be Nice
- You Still Believe In Me
- That's Not Me
- Don't Talk (Put Your Head On My Shoulder)
- I'm Waiting For The Day
- Let's Go Away For A While
- Sloop John B.
- God Only Knows
- I Know There's An Answer
- Here Today
- I Just Wasn't Made For These Times
- Pet Sounds
- Caroline No
- Hang On To Your Ego (lado-B)
* SMiLE:
- Prayer
- Heroes & Villains parte 1

lado B:
* SMiLE (cont.)
- Heroes & Villains parte 2
- Do You Like Worms
- Old Master Painter
- Wonderful
- Cabin Essence
- Good Vibrations (45" version)
- Look
- Vegetables
- Wind Chimes
- The Elements (Fire, Mrs. O'Leary's Cow, Saturday Night, Water Chant, Da Da)
- Surf's Up
* SMiLE (vinhetas)
- Child Is The Father Of The Man
- Holidays

ouvindo: Walverdes - "Câncer"

5.8.03
 
Descobri hoje que um disco outrora decepcionante para mim funciona muito bem no início da manhã. Escrevi aqui que "Long Gone Before Daylight" dos Cardigans foi decepcionante - e de certa forma continua sendo. Mas, ao ouvir hoje pela manhã uma fita K7 gravada no final de semana, acabei encontrando a proposta oferecida pelo disco: um pop tranqüilo, simples, bastante influenciado por sonoridades acústicas e agradáveis. Passa longe da Beth Gibbons, mas o sonzinho desce suave no início da manhã, quando estou preparando o dia e projetando o conjunto de pepinos que me espera no escritório. Nina Persson canta cada vez melhor, e o panorama light dos instrumentos deixa bastante espaço para que ela adorne as canções com sua voz doce e cristalina. A produção perfeccionista tira um pouco da espontaneidade, os apetrechos regionais e eletrônicos fazem falta, mas encaixando o disco no universo a que ele se propõe, o foco muda e ele passa a funcionar de forma satisfatória. Deixa a desejar pot tratar-se da banda que fez "First Band on The Moon", os singles são apelativamente pop (herança dos compatriotas Roxette?). Ainda é o mais fraco deles, mas não é assim tão fraco o quanto eu imaginava. Nada como um dia após o outro.


Descobri ontem, também, que o terceiro disco do Sparklehorse, "It's A Wonderful Life" tem participações de PJ Harvey, Nina Persson e atuação massiva de Dave Fridmann. Eu nunca tinha entendido o porquê desse disco ser tão bom, mas a constatação referida clareou tudo. Esse disco é de 2001 e a cada dia que passa eu tenho dado mais atenção a ele. Mark Linkous, o homem por trás do nome, é muito talentoso e, somado a essas personalidades, fez um dos discos que mais me conquistaram nessa década. Se os discos anteriores já eram dez, esse conseguiu ser onze.


ouvindo: Mogwai - "Moses? I Amn't"

4.8.03
 
Complementando o último post: a Capitol ama o nosso dinheiro e, como prova disso, colocou no mercado uma versão de "Pet Sounds" em DVD-audio. Isto significa que agora é possível escutar, para quem dispõe de um DVD ou preferivelmente um sistema home-theater, toda a beleza em formato 5.1. Eu, que já tenho tanto o CD como a caixa das sessões, fiquei com um ponto de interrogação na cabeça sobre os motivos pelo qual desejar tal item. Mas a Capitol não é boba, e incluiu promo films como bônus do DVD.

ouvindo: The Mars Volta - "Tira Me A Las Arañas".

3.8.03
 
Acho que junto ao "...The Beginning Stages Of" do Polyphonic Spree, o outro álbum que eu não canso de escutar é o "Pet Sounds". Sempre que eu olho para minha coleção e não sei ao certo o que escolher, quando dou-me por conta já estou com o "Pet Sounds" na mão. Nessa última semana eu fiz um K7 com o disco mais algumas faixas do "SMiLE" e o álbum não quer largar a minha cabeça. É o tempo todo, a cada nova audição é um detalhe a mais que eu descubro e minha perplexidade pelo trabalho do Brian Wilson nesse disco vai aumentando.

Muito já foi dito sobre o disco, o Brian já deve ter sido elogiado até pelo papa (se não foi, deveria). Tenho aqui em casa dois bootlegs com sessões de estúdio do disco, agrupadas por uma gravadora clandestina chamada Sea Of Tunes. Eles têm uma série de CDs chamada "Unsurpassed Masters", em que eles registram em CD várias sessões de estúdio que nos ajudam, no caso do Beach Boys, a entender os porquês da veneração da qual Brian é alvo. Os Beach Boys tiveram 21 títulos, os Beatles tambem tiveram alguns nessa série. O "Pet Sounds" é retratado em 2 volumes, 13 e 14, cada volume com 4 CDs. São então 8 CDs com sessões de gravação onde é seguidamente retratada a maneira com Brian interagia com os músicos através do microfone da mesa de som. Sua busca pela perfeição e pela expressão sonora das frases musicais que tinha na cabeça são incríveis, e eu cada vez concordo mais que é difícil encontrar definições para a maneira como o cara tinha controle sobre todos aqueles belos sons que eram lindos tanto individual como isoladamente. Tudo encaixa de maneira perfeita, as melodias dos sopros complementam o baixo, que interage com o órgão... é muito registro sonoro para pouco espaço. O bacana desses discos é a chance também de identificar pontos intermediários que, no mix final, perdem um pouco da atenção. Ouvindo gravações ainda sem vocais, ou sem trechos de guitarras levam à conclusão que Wilson já tinha o disco pronto na cabeça antes mesmo de que o primeiro segundo de gravação fosse iniciado. A instrumentação é extremamente elaborada, a tal wall of sound não é um mero overdub de sons repetidos, mas uma combinação rica de belíssimas melodias.

O único porém de tudo isso é se dar conta que Brian não foi muito mais longe do que isso. Queria que ele tivesse tido suporte para levar seu talento além. Acredito que se "SMiLE" tivesse saído, teria sido muito diferente do que "Pet Sounds" foi. Seu direcionamento seria muito mais em função da exploração sonora, seria menos resolvido que o disco anterior. Seria um disco mais concentrado em reproduzir estados de espírito através da música (e isso funciona no material que se tem hoje). Mas como conjunto, "SMiLE" perderia em brilhantismo para "Sounds". O cara tinha um potencial desgraçado, um senso musical de outro planeta. Pena que as coisas nessa vida seguem caminhos o mais inesperados possíveis.

ouvindo: The Beach Boys - "(Don't Talk) Put Your Head On My Shoulder" (string overdub)