28.2.03
 
DECEPÇÃO: Foo Fighters - "One By One" (2002)
Bem, Dave Grohl parecia ser um dos poucos artistas que nunca decepcionariam seus ouvintes. A carreira do cara foi invejável, uma sucessão de feitos que pouquíssimas vezes foi registrada na música pop. Você conhece algum ex-integrante de banda famosa que, quando entrou em carreira solo, foi tão bem sucedido quanto costumava ser? Veja o exemplo do outro ex-Nirvana: Krist Novoselich lançou um CD fraco ("Sweet 75") e caiu na obscuridade. É o que normalmente acontece nesses casos, os remanescentes não têm cacife para tocar seu próprio barco.
Mas Dave vinha mostrando uma qualidade excepcional desde que as cinzas do Nirvana foram decretadas. Lançou um debut desencanado, encarou os holofotes com naturalidade e sempre se mostrou uma figura atenta ao mercado. Recrutou ninguém menos que Gil Norton (Pixies) para produzir seu segundo (e melhor) álbum e soube unir com maestria as propriedades pop e rock em seu disco mais bem-sucedido, o terceiro "There's Nothing Left To Lose". Quando todos achavam que sua fonte tinha secado, ele foi tirar umas férias com ninguém mais niguém menos que a rapaziada nota 100 do Queens Of The Stone Age. Cacete!
Bom, aí vem o problema. O próximo passo ficou obviamente cercado de expectativas e o próprio Grohl anunciou um disco mais pesado que os antecessores. Dei por certo que teríamos um novo clássico da década, afinal de contas ele aliaria seu bom tino pop às porradas herdadas do período com o QotSA. E eis que "One By One" saiu: frustrante.
Produzido por Adam Kasper, colaborador do próprio QotSA, o álbum tem, em primeiro lugar, músicas fracas. Tudo soa como lado-b da carreira do Foo Fighters. A produção de Kasper não disse muito ao que veio, e a sonoridade peca pela falta de identidade própria, pelo lugar-comum de outros milhares de discos de rock. O ponto alto de Grohl que são os apelos pop bem sacados em suas canções, estão pouco inspirados e o tão falado peso ficou resumido à uma camada maior de guitarras que não causam tanto estrago assim. Há para mim também a impressão de que tudo foi feito meio às pressas, desde a composição até a produção. É óbvio que ele poderia ter feito algo bem melhor, que ao menos ficasse no nível dos seus trabalhos anteriores. Mas "One By One" saiu assim, fraco e de apelo às camadas menos exigentes do mercado. Pelo jeito, Dave deve gastou todas suas fichas no QotSA. Ele devia ter tirado umas férias antes de iniciar o "One By One". Faz bem.
E para completar, o DVD bônus (incrivelmente lançado no Brasil) é a maior frustração do ano. Uns videozinhos curtos e bestas, a versão do videoclipe de "All My Life" e uma coleção de fotos. Deve ter sido feito por algum estagiário da Capitol Records.


ouvindo: Desert Sessions VI - "You Think I Ain't Worth A Dollar But I Feel Like A Millionaire".
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27.2.03
 
O.C. (objeto de consumo) / RECOMENDO: Zwan - "Mary Star Of The Sea" (2003)
Tá, confesso. Essa recomendação é tendenciosa e nada imparcial. Vindo de um fã incondicional não vale. Mas o Billy Corgan é o cara cujos álbums eu não penso SE vou comprar, mas COMO farei para comprar. Pode ser um single exclusivo da Nicarágua, eu vou dar um jeito de garantir o meu.
Minhas expectativas não eram muito grandes, pois à medida que os shows do Zwan que antecederam o álbum aconteceram eu fui colecionando-os. Minha curiosidade em como a banda soava já havia sido saciada, ficou apenas a dúvida em relação a como eles soariam em estúdio, oficialmente. E eis que trata-se de um álbum inferior aos dos tempos áureos dos saudosos Smashing Pumpkins, mas ao mesmo tempo é a retomada de um espírito que havia decaído após o "Mellon Collie And The Infinite Sadness". Há muita empolgação nas faixas mais pesaditas, como "Lyric", "Declarations Of Faith" e "Ride A Black Swan". O ponto baixo está nas baladas, que vinham se destacando na carreira do Corgan a partir do "MCIS". São xoxas, pouco inspiradas na composição e nos arranjos. "Desire" poderia facilmente figurar em uma novela das 8.
Mas o que há de bom então? Bem, apesar da escalação de feras como David Pajo e Jimmy Chamberlin, o Zwan é Billy Corgan cru e direto. As músicas são muito diretas e não se envergonham dos resultados que podem causar. Desde a composição até a produção, o dedo do Billy está lá, ao contrário dos últimos trabalhos dos Pumpkins em que havia uma insistência em maquiar a música em conceitos, sombras e recursos eletrônicos. Estão lá muitas canções vigorosas com muitos pontos altos, feitas com capricho. É o bastante para justificar algumas audições.
PS 1: É deste álbum que saiu o título deste humilde blog: "Baby, Let's Rock!".
PS 2: A versão importada vem com uns adesivos e um DVD bônus. O DVD tem cenas de estúdio, backstage e shows ao vivo. No fundo, trechos de músicas inéditas. Qual versão eu comprei? Heh-heh.


ouvindo: Frank Jorge - "Novo Dia" (demo 1998).
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RECOMENDO: The Beach Boys - "Pet Sounds" (1966)
Confesso que sou novo a este panorama sessentista. Sou um daqueles que vem de universos musicais mais recentes (mais precisamente, os anos 90). Nunca consegui conectar muito bem a essas bandas, não vivi o espírito da época. As coisas eram mais ingênuas e muito do que era hardcore naqueles tempos é hoje uma canjinha de galinha. Mas, de tanto ler sobre a aclamada excelência do "Pet Sounds", dei o braço a torcer e comprei o CD. É uma experiência inusitada para um rapaz que já escutou de Sepultura a John Zorn. "Wouldn't It Be Nice" é um popzinho que resume a fase inicial dos Beach Boys, não impressiona muito. Mesmo "God Only Knows", dito hino deste álbum, frustra um pouco a quem estava esperando uma obra-prima. As duas primeiras audições não me pegaram muito, achei o lance meio velho, ingênuo demais. Mas aí vem o outro lado da história: a partir da terceira, da quarta audição, a coisa começou a mudar. As músicas me cativaram de uma maneira que, quando em dou conta, estou com uma delas na cabeça. E dá-lhe "Pet Sounds" durante o dia todo. É um álbum realmente muito bem composto, que enriquece ainda mais quando buscamos informações de como ele foi concebido e de como Brian Wilson foi meticulosamente aplicado nessa produção. E sua relevância está justificada basicamente na qualidade das canções, na beleza dos arranjos e no caráter inovador dentro da carreira dos Beach Boys. O texto do encarte defende também que este foi um dos primeiros álbums que pode ser visto com um todo, e não apenas uma coleção de hits "engrossada" com cançõezinhas medianas (o que era o praxe da época). Enfim, um objeto de arte pop.
E depois veio um período extremamente interessante na carreira dos caras e na história do rock: "SMiLE". Minhas impressões sobre o disco inacabado ficam para uma próxima.


ouvindo: The Beach Boys - "Here Today".
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24.2.03
 
O tempo está meio ruim, quente e úmido. Devo ser mais um daqueles nerds que não suportam o verão.
Certo. Bem vindo a este humilde espaço.
Pretendo utilizá-lo para tecer idéias e comentários sobre música.
Bem, esta criança não deve ter nenhum formato específico, embora eu deva fazer uso de algumas seções que devem aparecer regularmente. São elas:
- O.D.: Objeto de desejo: discos em que estou de olho.
- O.C.: Objeto de consumo: discos que adquiri recentemente.
- RECOMENDO: s/c.
- DECEPÇÃO: álbuns que merecem um CD "genérico".

No decorrer do percurso, novas seções devem surgir. Não se espante.
Conto com você.
ouvindo: Kyuss - 24/10/1994 Atlanta, GA, US