31.3.03
 
No embalo do "lançamento" de "Hail To The Thief", vai aí um dos meu álbuns preferidos de todos os tempos.
Radiohead - "Kid A" (2000)
Diz aí: o que você faria se a sua banda fosse considerada a melhor do mundo após lançar o grande álbum de todos os tempos? Como você faria para lidar com as expectativas dos fãs, do mercado, da gravadora? Você lançaria um álbum nos mesmos moldes do seu aclamadíssimo sucesso ou buscaria outros territórios? Você pediria a conta e encerraria a carreira? Smashing Pumpkins, Los Hermanos, Queens Of The Stone Age e tantos outros encararam ou estão encarando esse grande desafio artístico. Com Thom Yorke não foi diferente.
"OK Computer", o favorito em qualquer lista de melhores, foi um álbum revelador. Dali surgia uma banda outrora vista como "sub-grunge", deslocada do brit-pop e de quaisquer tendências. "Pablo Honey" fora um disco de um hit só, "The Bends" não me agrada muito, apesar de possuir momentos intensos e que, de alguma forma, parecem anunciar que dali viria alguma coisa maior no futuro. Mas duvido que até o mais aficcionado fã do Radiohead apostou que a banda ganharia tamanha reputação perante a midia e os fãs. Simplesmente não dava para prever naquele rock simples e emotivo de "The Bends" que surgiria em seguida um clássico dos anos 90. "Ok Computer" ofereceu sons angustiantes num mix perfeito de rock e tecnologia, ao ponto de emular um discurso melancólico de uma máquina em "Fitter Happier". A conexão direta com a vida na cidade, com a tecnologia, com a ausência de humanidade incorporava letras e música de maneira impressionante. O álbum converteu milhares de pessoas e os 5 caras, principalmente Yorke, passaram a ser vistos como os grandes e indiscutíveis nomes do rock mundial.
É nesse panorama que o questionamento que inicia essa resenha entra: o que fazer a seguir? Como seguir a tradição de inovações sem que se tenha de necessariamente utilizar os artifícios aclamados de "Ok Computer"? Pois os caras supreenderam novamente e entregaram um disco insperado. "Kid A" remete, em um primeiro momento, ao pós-rock eletrônico, de bandas como Aphex Twin, Godspeed You Black Emperor e Autechre. Aqui a idéia principal foi dificultar o acesso às músicas, através da camuflagem eletrônica, da quebra de ritmos e da melodia mais elaborada. A temática segue apostando na desilusão humana de "Ok Computer", na solidão das grandes cidades, nas paranóias urbanas e dos escritórios. Ao contrário dos leves toques eletrônicos de "Ok Computer", "Kid A" usa e abusa das máquinas e grande parte dos instrumentos acabam misturados em um único fluxo de som. Em um esqueleto simples, de faixas potencialmente comerciais, o Radiohead aplicou vocais maquiados, teclados moogs e mudanças de ritmos que provocaram uma metamorfose nas mesmas. O ouvinte acaba sendo convidado a uma viagem que, após sucessivas audições, revela aos poucos o interior de cada canção.
"Everything Is In It's Right Place" é quase um techno, de batida repetitiva e simples. Thom se dilacera sobre essa base, declarando suas (e nossas) insignificantes paranóias que desproporcionalmente assombram nosso dia-a-dia. "Kid A", a música, é uma brincadeira com a robótica no lugar dos humanos (li em algum lugar que "Kid A" é o nome de um software que ensina crianças deficientes a se comunicar). Uma voz robótica toma as vezes do locutor/cantor. Parece feita para a nossa televisão, nossa batedeira. "The National Athem" flerta com avant-garde, usando linhas de jazz e solos de sax a-la John Zorn criando uma tempestade sonora da sua metade para o fim. "How To Disappear Completely" faz as vezes de "No Surprises", a balada desiludida do disco (nesse caso, recheada de efeitos). "Optimistic" seria o que há de mais próximo de "Ok Computer", com um refrão sensacional. "In Limbo" é uma impressionante utilização de ritmos quebrados, de letra malucona e "Morning Bell" tasca a mão nos moogs que permeiam a obra. "Treefingers" e "Motion Picture Soundtrack" são instrumentais que ajudam a criar ainda mais o clima de vazio emocional e desilusão do álbum. "Idioteque", uma das favoritas dos fãs, incorpora cultura de clubs no universo Radiohead.
Depois desse CD o Radiohead lançaria um álbum de lados-b "re-elaborados", "Amnesiac", que apresentou músicas muito boas, apesar da falta de contexto comu entre elas, como era de se esperar.
É nesse ponto que vai entrar "Hail To The Thief", prometendo combinar todas as propostas abordadas pela banda nos seus 5 álbuns anteriores. Se fosse qualquer outro artista, eu duvidaria, esperaria um trabalho trivial. Mas como é o Radiohead, dá para esperar o melhor do ano.


ouvindo: Interpol - "Stella Was A Diver And She Was Always Down"

 
Já estão circulando por aí dois CDs que vão matar a pau o meu 2003:
- Tomahawk: "Mit Gas"
- Radiohead: "Hail To The Thief"


25.3.03
 
Estarei ausente nos próximos 3 dias. Se tudo der certo, escrevo no próximo sábado.

 
Alguém já se deu conta de como a indústria fonográfica brasileira ainda não entrou em 2003? Cara, não teve nenhum lançamento relevante até agora, com exceção do decepado Zwan. Se bem que isso não é novidade nenhuma que mesmo a pleno vapor, a indústria brasileira nunca consegue (e nem pretende) atender às nossas mais humildes exigências. Para quem está a fim de encarar um CDzinho e já tem o "Mary Star Of The Sea", vai a dica do outro único lançamento decente que chega via Trama (por sinal, alguém notou que a Trama está com o freio de mão puxado? Acho que a crise pegou os caras de jeito).

Interpol - "Turn On The Bright Lights" (2002)
2001 foi o ano em que a mídia convencional concentrou esforços no rock. Saturada de pops adolescentes, hip-hops e rap-metals que dominam as paradas, o mercado tentou empurrar novas sensações do momento calcadas no rock. Em comum, estes artistas tinham o forte uso de referências de rock oitentista, como Velvet Underground (Strokes?), Jesus And Mary Chain (Black Rebel Motorcycle Club) e Clash (The Libertines). É dessa safra que vem o Interpol, mais especificamente de Nova York, epicentro do tão falado revival. Antes de qualquer coisa, é importante salientar que "Turn On The Bright Lights" está acima de lances comerciais ou cenas musicais existentes. Para falar a verdade, não vejo uma grande conexão entre os artistas acima citados, com exceção do forte uso de referências nos trabalhos. A mídia claramente usou artificios batidos (alguém lembra do grunge nos anos 90) para centralizar uma série de bandas que na real não têm muito em comum.
O CD tem sim, você obviamente já leu a respeito, ligações diretas com o Joy Division. A banda aposta na sonoridade melancólica e tortuosa, exatamente o que Ian Curtis imortalizou. Mas acima disso, a música presente nele é viva e pulsante. Seu início se dá com "Untitled", um rock arrastado que dá a cara ao trabalho da banda. Lento, triste e cinza, a música é perfeita para seu dia chuvoso de outono. "Obstacle 1" é um hit muito, muito bom. Mais acelerado e menos caótico, lembra as batidas de New Order e de músicas como "1979" dos Smashing Pumpkins. Vigor e originalidade conseguem se sobrepor às tão alardeada influências.
"PDA" usa os mesmos artifícios empolgantes de "Obstacle 1" e outras faixas como "NYC" e "Stella Was A Diver And She Was Always Down" imergem na tristeza e na depressão. São duas facetas que correm em paralelo no CD, harmoniosamente.
O mais impressionante nesse CD é constatar que mesmo sem esconder suas referências, o Interpol é capaz de soar novo e velho ao mesmo tempo. Ao pressionar play, você vai identificar que os caras têm qualidades e fizeram uma obra diferenciada. Não é a toa que a mídia alternativa mais ranzinza da internet, a Pitchfork, elegeu esse CD como melhor de 2002. Pense bem, eles tinham tudo para queimar o quarteto por todas as razões apresentadas acima. Mas tenho certeza que a mesma surpresa que tive ao escutar o CD tomou conta da turma de redatores, e a coroa foi justamente entregue ao Interpol.
A Sum se esforça para lançar CDs interessantes, apesar de ter alguns catálogos fracos. As majors muito raramente baixam maravilhas como "Yankee Hotel Foxtrot" por aqui. Os independentes arriscam um ou outro de vez em quando (Clinic, International Noise Conspiracy). A Trama, que igualmente tem um catálogo limitado, conseguiu botar na jogada este que é um dos melhores CDs de 2002. Vale muito a pena investir nesse cara, primeiro porque é um discão, segundo porque é incentivo à iniciativa da Trama e terceiro porque é um oasis no meio do deserto.


 
The Dillinger Escape Plan & Mike Patton: "Irony Is A Dead Scene" (2002)
O Patton tem dessas supresinhas. Você fica sem ouvir falar no cara, ele não está em turnê e não há pistas de sessões de gravação do cara. Você apenas tem a certeza de que ele, nesse exato momento, ou está tocando em um palco ou matutando, produzindo alguma coisa nova. E, como tradicionalmente ocorre, esse EP saiu meio que da noite para o dia, sem muito tempo para se especular em cima.
O Dillinger Escape Plan deve muito de sua carreira ao próprio Patton. Reis da pauleira esquisita, esses rapazes são sempre referenciados pelos fãs de som pesado e já adquiriram status de banda destaque no meio. Junto com o Isis, são o que de melhor está acontecendo no reino da pancadaria.
Pois esse EP é significativo porque marca o encontro de rei e súditos. Patton empresta seu talento e o DEP reverencia o ídolo com total devoção, produzindo um trabalho que mescla as várias facetas da música "pattoniana". Dos projetos pós-Faith No More, o disco engloba as incessantes mudanças de sonoridade a-la Mr. Bungle, a esquizofrenia do Fantômas, o peso do Tomahawk e as estripulias vocais do avant-garde. Seriamente influenciado, o DEP escreveu músicas nos moldes do convidado, tornando o ambiente bastante favorável para que Patton destile milhares de climas e recursos vocais.
As três primeiras faixas, composições próprias da banda, exploram freneticamente a contínua troca de ritmos. Como uma montanha-russa, os sons trafegam por trechos calmos até momentos tresloucados ao máximo. Baixo, bateria e guitarra são complementados com efeitos eletrônicos (já comuns nos trabalhos mais recentes de Patton) e com o vocal majestoso de Patton, que opta por seu lado mais violento e esquizofrênico. Em determinados momentos, a mesclagem entre eletrônica e vocais é tão intensa que você não consegue identificar o quê é o que. O EP finaliza com uma cover de "Come To Daddy", do eletrônico Aphex Twin. Não é a minha favorita, até porque os caras ficaram um pouco presos dentro da canção e não chegaram ao ponto esperado. Por outro lado, conseguiram subvertê-la ainda mais, deixando o universo de Richard D. James ainda mais assutador. Fica fácil ver em Patton a figura de um maníaco enlouquecido nos versos "Come to Daddy/Come To Daddy".
De todos os lançamentos pós-Faith No More, este é o que mais agrada as comunidades pesadas. A primeira audição é um pouco desconfortável, principalmente para quem não se acostumou com as bizarrices do Fantômas. Como em grande parte dos trabalhos do rapaz, as sucessivas audições revelam novidades e pontos interessantes. É sem dúvida o trabalho que melhor conseguiu aglutinar as diversas facetas de Patton de forma harmoniosa e empolgante. Uma ótima opção para quem está perdido no mundo pesado e não vê a hora de voltar para os eixos.


ouvindo: Interpol - "Obstacle 1"

 
Tem coisa pra cacete para eu fazer. Mas dá tempo para respirar.
Pequenos Jedis, por favor, tenham um pouquito de paciência.

ouvindo: Trail Of Dead: "Relative Ways"

19.3.03
 
(O.D) Objetos de desejo:
- Placebo: "Sleeping With Ghosts" (tá, com um certo receio, confesso) - 01/04/2003
- And You Will Know Us By The Trail Of Dead: "Secret Of Elena's Tomb" - 01/04/2003
- The Cardigans: "Long Gone Before Daylight" - xx/04/2003
- Tomahawk: "Mit Gas" - 06/05/2003

18.3.03
 
(O.C. - Objeto de Consumo): Chegaram alguns dos singles que eu havia anunciado a compra. Dei uma escutada em todos nesses últimos dias, mas não o suficiente para emitir opiniões definitivas sobre os trabalhos. Até o momento, vou encaixá-los na definição "pouco surpreendentes", pois em alguns casos, eu tinha boas expectativas nesses CDs:
Zwan - "Honestly": Esse é o melhor dos três. O Zwan conseguiu a façanha de nivelar a maioria de suas músicas igualmente (quem escutou o material ao vivo vai concordar). Se nada lhe surpreende, por outro lado nada chega ao ponto de frustrar. E isto serve para 95% do material mostrado até hoje. "Honestly" é um ótimo feito pop, supreendente diria, para os parâmetros de Billy Corgan. Ele, que em até em seu maior hit, "Today", não abandonava pinceladas melancólicas, soube entregar um hit colorido e totalmente alto-astral. Os dois b-sides desse single são acústicos, em que a banda encarna o pseudônimo de "The Djali Zwan", como que rotulando a banda de acordo com a proposta sonora. "The Number Of The Beast" é mesmo a cover do clássico do Iron Maiden, cantada por Matt Sweeney numa versão folk. Ficou inusitada e interessante, sem maiores intenções. A segunda, "Freedom Ain't What It Used To Be" já havia sido tocada em shows do Djali Zwan e é uma bela canção acústica, Ganhou brilho com as frases de piano. Nota 8,5.
Placebo - "The Bitter End 1 & 2": Fiquei com um pé atrás. Brian Molko já havia pisado na bola em 2000 com "Black Market Music", álbum em que ele se esforçou para adicionar elementos novos (eletrônicos, principalmente) e colocou os pés pelas mãos. Até rapper entrou na jogada. As coisas indicavam que, ao menos pela minha intuição, Molko e os rapazes (?) assumiriam os equívocos e voltariam para a densidade sonora que faziam com instrumentos mais convencionais. Mas as sessões de discotecagens feitas por Molko na Europa acabaram vencendo, e ao que tudo indica, "Sleeping With Ghosts" vai explorar ainda mais as tendências eletrônicas que iniciaram em "Black Market Music". A faixa-título é interessante, os outros b-sides flertam com os bits como nunca. "Daddy Cool" é uma cover de uma banda disco dos anos 70 chamada Boney M. E o resultado foi disco music, sem grandes motivos para acontecer. O destaque fica com a sublime versão no piano para "Teenage Angst", que eles já tocaram na turnê de "Without You I'm Nothing". Nota 5,5.
The Cardigans - "For What Is Worth": Esperava mais. A canção single é leve, doce mas sem muito daquela diferenciação característica da banda. Pop comum para passar despercebido nas rádios. "Das Modell" é um cover (não sei de quem - Kraftwerk?) que herda a computação pro-tools tão utilizada no álbum anterior, "Gran Turismo". A última canção, "The Road", é longa e a melhorzinha. Mas ainda não senti aqueles momentos sublimes que os caras proporcionavam até o último álbum. O trabalho paralelo da Nina, "A Camp", deu de dez até agora. Nota: 6,5.

ouvindo: A Camp - "The Odness Of The Lord"

 
Tá, voltei com os comentários do Fala Sério. Tô louco para atualizar o blog, mas o bicho tá pegando aqui no serviço. Em breve, devo estar com alguma coisinha na Dying Days, graças aos amigos Alexandre, Fabrício e Natália que honrosamente me convidaram. Só falta acertar os momentos disponíveis.

16.3.03
 
Tenho lido muita coisa sobre "SMiLE", o álbum nunca concluído dos Beach Boys. A internet tem uma quantidade absurda de material abrangendo esse trabalho e a cada nova leitura, minha obsessão por ele aumenta. Não conheço nenhuma outra história no rock tão mitológica e interessante como essa. A idéia de que infinitas versões podem ser geradas, tornando "SMiLE" um álbum infinitamente cíclico me deixa perturba muito (o próprio Brian Wilson, lá pelas tantas, parece ter sofrido desse mal). E há aquele misto de frustração pelo álbum nunca ter sido concluído e a esperança que Wilson ainda entregue uma versão definitiva, mesmo sabendo que nunca mais seria equivalente à de Wilson de 1967-68. Ops, escrevi demais. "SMiLE" merece uma resenha especial, que virá no futuro.

ouvindo: The Beach Boys - "Caroline No"

14.3.03
 
Troquei o sistema de comentários pelo Blogout. Portanto, esse "ShoutOut" é cortesia deles, ainda não descobri como altear a mensagem. Vamos ver se, daqui para a frente, as coisas voltam ao normal.

13.3.03
 
Em algumas listas que participo e blogs que leio o pessoal detona um gênero musical que tem um enorme público brasileiro. Não é pagode, não é axé. É o velho heavy metal. Hoje mesmo, na lista da Dying Days, houve uma discussão sobre como os metaleiros tendem a ser radicais e obtusos em relação a tudo o que não faz parte do circuito deles. Se pararmos para ver melhor, é uma grande ironia o que acontece com esses indivíduos.
Desde o primeiro Rock In Rio, a sociedade estigmatizou o público metaleiro como violento e desmiolado. As imagens de monstros, a gurizadinha de preto, os cabelos compridos são até hoje vistos com um certo repúdio pelos cidadãos de bem. Metaleiro é ser excluso, é underground assim como um punk, um clubber ou um hippie. Pois mal sabem as pessoas que um show de metal é o evento mais pacífico em que se pode ir hoje em dia. Futebol, shows de pagode e axé são eventos potencialmente muito mais perigosos que um concerto do Sepultura. Você pode levar uma garrafada, um tiro e ser assaltado com bem mais facilidade pelo público desses outros eventos. É só não ficar no meio do pogo caso não queira ser incomodado.
Pois os metaleiros, em sua maioria, por incrível que pareça são incrivelmente preconceituosos em relação a novos sons. Mesmo alvo de longa discriminação, essa turma é cabeça-dura. Muitas vezes, eles ignoram obras primas do rock por elas não entrarem na lista de premissas básicas para se apreciar um disco. Se colocar um efeito eletrônico então, putz, é comprar briga. E o mais estranho nisso tudo é que esse radicalismo acabou estagnando o potencial criativo das bandas. O que é melódico é melódico, o que é doom é doom, o que é black é black e assim por diante. Exemplos como o do Iron Maiden, que desde os anos 80 vêm tocando sempre a mesma coisa e apelando para as mesmas bobagens gráficas são a certeza de que se um músico de metal quiser explorar seu trabalho deve fazê-lo com muito cuidado para não perder fãs.
Mas, em pleno 2003, ainda existem bandas relacionadas com esse público que podem oferecer uma chama de criatividade oferecendo discos bem interessantes. O Tool é uma unanimidade, o Nine Inch Nails é sempre uma boa chance. O Sepultura vem, ao mesmo tempo, tentando se desvencilhar do passado com o Max e da rotulagem thrash metal. O Fantômas usou muitos ingredientes dessa vertente para aplicar sua psicose. O A Perfect Circle usou temáticas góticas e consolidou uma boa base de fãs. Mas no ano passado, um lançamento me chamou atenção e, por sinal, foi bem elogiado por alguns points gringos rede afora:

RECOMENDO: Isis - "Oceanic" (2002)
Um dos grandes nomes da gravadora Ipecac (de Mike Patton e Greg Wreckman), o Isis é uma banda acima de tudo violenta. Cheguei até o "Oceanic" depois de algumas indicações na internet e quando soube que fora lançado pela Ipecac, adquiri-o com tranquilidade. Tinha certeza que, independente da proposta sonora, teria ali uma obra inovadora e segura. Pois "Oceanic" não me decepcionou. Foi, inclusive, citado como uns dos melhores CDs de 2002 em algumas publicações.
Esses caras ja tinham lançado 6 CDs antes desse em questão, todos através de selos alternativos. O som deles é equivalente a uma parede desmoronando, tamanha a aplicação do fator peso nas músicas. Há em seu histórico uma contínua evolução sonora, sendo este álbum o retrato do melhor som que eles já obtiveram. Desde sua primeira demo, a característica principal do Isis é a longa duração das músicas, que giram em torno de 6 a 8 minutos. Mas ao invés de masturbações guitarrísticas ou vocais agudinhos, marcas do metal tradicional, o Isis segue uma linha industrial, grindcore influenciada por Neurosis e Godflesh. Há ainda, para meus ouvidos, um pouco da sujeira a la Prong. As guitarras são baseadas em paredes, sobreposição de riffs que se sobressaem nas caixas de som. O som tem um ritmo arrastado, violento, muito diferente da rapidez da maioria dos medalhões do metal. Solos de guitarra são quase inexistentes, o Isis aposta no clima e na ambiência das canções para conquistar o ouvinte. Os vocais, quando existentes, são gritados e urrados, na linha que Mike Patton ajudou a consagrar. A conexão com a gravadora Ipecac, cavaleira dos sons exóticos, é justificada e há grandes possibilidades de que o Isis agrade aos fãs de Mike Patton pós-FNM. Não há aquela pose caracteristica, a necessidade de exibicionismo que caracteriza muitas bandas do gênero. Nem aquela atitude machista e forçada. O Isis criou um pesadelo, um mundo próprio para sobreviver.
"Oceanic", infelizmente, não verá seu lançamento em terras nacionais, mercado em que as gravadoras preferem apostar em mais um CD do batido Ozzy Osbourne.

 
Desculpem o hiato. Estou com meus dias bastante movimentados. Já já estarei com alguma coisa nova.

ouvindo: Diego Medina - "Pé de Pato no Teto (1a. versão)"
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11.3.03
 
Ilutrações: Em dias de internet, de MP3 e de música livre, nada mais justo do que fazer um test drive de um produto (no caso, CDs) antes de conceder-lhe a honra da compra. Mas, por outro lado, quando se tratam de bandas que a gente gosta, fica aquele sentimento de traição e de estrago da supresa. Digam o que quiserem, nada se compara a escutar um CD pela primeira vez munido dos encartes originais, dos créditos, da artes. A cultura do MP3 desvinculou as obras musicais das obras visuais que as acompanham. É interessante, diga-se de passagem, pois a música acaba sendo avalida por si só, sem influências de logotipos, figuras, complementos. Por outro lado, muitos discos estão tão estritamente ligados à sua proposta gráfica que chega a ser um pecado trasportá-lo para um CDR prata em saquinho de plástico. Imaginem só o nível de modificação no conceito de seus álbuns preferidos. Quando você pensa em um disco, você, como eu, relaciona sua imaginação diretamente à capa do mesmo? Em seus discos prediletos, você não tem impressas em sua mente cada figura, cada página do encarte? Um som pode ser encarado de maneira mais alegre se a capa tiver uma proposta colorida, para cima. Já uma proposta nebulosa pode trazer as coisas para baixo. Isso sem citar as capas que são tão importantes quanto o disco, as capas mitológicas e as capas metafóricas. Só os Beatles têm uma porrada de enigmas que divertem os fãs. O Iron Maiden tem capas mais bacanas que o próprio som. Enfim, é o lado negativo da música digital e tudo indica que eu sou minoria nessa situação. A maioria das pessoas não tá nem aí, certo prezado leitor?

DECEPÇÃO: Oasis - "Heathen Chemistry" (2002)
Cara, é impressionante como as pessoas se apegam a certas bandas ou são alvo de marketing nada inovador. Eu mesmo me enquadro nessa categoria muito seguidamente, acabo me deixando levar por um ou outro bafafá. No caso do Oasis, que não é a minha banda preferida, eu fui à loja pelo respeito às boas músicas dos caras. Tenho os álbuns dos caras, não escuto continuamente mas de vez enquando rola um "It's Getting Better Man". Sempre achei o Noel Galagher um músico abençoado, com uma capacidade superior para escrever músicas de rock em poucos minutos. O cara manja do assunto e fez pérolas musicais dos anos 90 conseguindo imprimir personalidade à uma vertente pra lá de explorada.
O problema aqui é que ele parece estar passando por uma fase de fraqueza criativa. Isso acontece nas melhores famílias, não é pecado algum. Os músicos passam por safras boas e ruins, e "Heathen Chemistry" é o retrato de uma fase onde Noel deu lugar a outras produções dentro da banda, abrindo mão da exclusividade no processo criativo. O que no álbum anterior parecia uma aventura tomou proporções maiores: Liam Galagher colaborou com 3 faixas que, bem, são Liam tentando soar como um Noel mais pretensioso, ainda mais influenciado pelos Beatles.
O álbum foi alaredeado como uma retomada ao primeiro e mais aclamado trabalho, "Definitely Maybe". De certa forma é verdade, pois o anterior, "Standing On The Shoulder Of Giants", foi uma louvável iniciativa em busca de novas influências no som da banda. O disco tinha flertes interessantes com a eletrônica, faixas com estruturas diferentes do histórico da banda e outras propostas sonoras. Os fãs parecem ter torcido o nariz, queriam mais do mesmo e a banda em seguida deu aquilo o que eles queriam. Interromperam a evolução criativa e deram alguns passos para trás, tentando xerocar um pouco dos tempos iniciais da banda. Essa atitude parece ter afetado Noel, que, presumo, decepcionado com a receptividade de seu trabalho mais "evoluído" sucumbiu às pressões e fez algumas musiquinhas nos fundos de casa, domingo à tarde. Paralelamente, Liam parece ter exercido todos os seus poucos neurônios e chegou em três faixas, sendo uma devidamente justificada. Uma suposta e pretensiosa "experimentação" instrumental do baixista cai por terra. Enfim, um álbum de pouca inspiração e de esforços para firmar os lados menos talentosos do quinteto.
"The Hindu Times" faz jus à reputação de bos roqueiros da banda e é a melhor do disco. É a cara do Noel Galagher. "Stop Crying Your Heart Out" e "Little By Little" são aquelas baladas para trilha de novela, que até o zelador do seu prédio curte. "Hung In A Bad Place" é xerox de "I Can See A Liar", do álbum anterior, que já ia na linha de outras antigas dos caras. Das produções do Liam, "Songbird" é uma surpreendente música pop, simples e como o pop tem de ser. "Born On A Different Cloud" pega pesado no fator Beatles e sobrecarrega a capacidade de composição do vocalista. Tudo muito bem produzidinho (até um pouco demais em certos pontos), bem como o fã quer escutar.
O marketing a que me referi no início da crítica estava lá, tentando vender o álbum como uma maravilha. Os caras da banda deram entrevistas comprometedoras, citando esse CD como o segundo melhor que já fizeram. Mas o Oasis parece ter atingido seu ápice e quando foi saltar mais alto teve de fazer pouso forçado. Acho que talvez seja a hora dos caras largarem o batente, cada um cuidar de sua carreira solo. Mas por outro lado acho que o trajeto deles é mais na linha do Kiss e do Metallica, onde money é o que interessa e o resto não tem pressa. Pelo menos os fãs curtem cegamente.


ouvindo: Zwan - "Declarations of Faith"
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10.3.03
 
Trilhas sonoras são mesmo um negócio meio broxante de se comprar. Sempre que um de seus artistas favoritos inventam de cair nos desejos de sua gravadora e incluir uma canção inédita em uma trilha é de lascar. Reuniões bisonhas de artistas nada-a-ver, a maioria desses álbuns contém canções que nem entraram no filme. A receita é a seguinte: uma ou duas bandas de peso, cinco meia-boca e mais cinco desconhecidas. O nível é sempre de médio para baixo sendo que em casos raríssimos o seu artista favorito gravou aquela música especialmente para a trilha. É normalmente um b-side, um remix ou mesmo uma já lançada anteriormente. Me pregunto: os compradores desse produtos são espectadores do filme que procuraram a trilha? Mesmo assim, existem exceções como "Natural Born Killers" e "Singles". Nesses casos, não só há um empenho por parte dos artistas como há uma relação verdadeira entre faixas e o conteúdo do filme. Vou recomendar abaixo a minha preferida:

RECOMENDO: Lost Highway o.s.t. (1997)
Não vou tentar apresentar para você o histórico do diretor deste longa, David Lynch. Você já deve ter visto algum filme dele, como "Veludo Azul", "Coração Selvagem", "Cidade Dos Sonhos" ou a série televisiva "Twin Peaks". Se você viu, chegou a uma única conclusão: esse cara é mesmo esquisito. E esquisito, sombrio para ser mais preciso, é o adjetivo desta trilha sonora.
Lynch fez um filme em que se misturam duas realidades diferentes em uma penumbra pouco vista antes. Para sonorizar este trabalho, recrutou-se ninguém mais ninguém menos que Trent Reznor (sim, o Nine Inch Nails em pessoa). Reznor já vinha de um elogiado trabalho na trilha sonora de "Natural Born Killers", em que agrupou de forma harmoniosa e assutadoras Leonard Cohen, Nine Inch Nails, Bob Dylan e L7. A violência presente na trilha anterior foi catalisada em forma de penumbra em "Lost Highway" e Reznor selecionou opções góticas e eletrônicas de maneira fiel à proposta do filme, justificando a sábia escolha de Lynch. Um produtor sombrio para um filme sombrio de um diretor sombrio.
Reznor e Lynch selecionaram três vertentes para conduzir sua trilha: 1) artistas góticos/eletrônicos (Nine Inch Nails, Smashing Pumpkins, Marilyn Manson, Rammstein) 2) Barry Adamson, que oferece faixas instrumentais que remetem a um jazz de garagem 3) o fiel escudeiro de Lynch, Angelo Badalamenti (em uma densidade nunca antes vista). E de maneira impressionante, esses três pontos se fundem através de disco, de forma que as passagens de um para o outro soem naturais e o clima de penumbra seja preservado por todo decorrer dele. Até mesmo quando a instrumental "Insensatez" de Tom Jobim entra de surpresa, o ouvinte tem certeza que ela está no lugar certo.
David Bowie colabora com um eletrônico inquietante, na linha drum n' bass. Essa mesma linha é aproveitada pelo Reznor (como Nine Inch Nails) para unir eletrônica com peso. "The Perfect Drug" é sua melhor música depois do aclamado "The Downward Spiral". The Smashing Pumpkins (ou melhor, Billy Corgan neste caso) entrega uma inédita, totalmente gótica e digital, longe das guitarras alternativas (o que viria a permear os trabalhos da banda dali para a frente). Rammstein como revelação e Marilyn Manson quebrando tudo dão o toque final a este verdadeiro pesadelo sonoro. Entre as faixas citadas, experimentalismos jazzísticos e panos de fundo interessantes dão uma densidade ainda maior ao CD. Uma dos pouquíssimas trilhas que consigo aproveitar em sua totalidade, sem ter de pular as faixas "descartáveis".


ouvindo: Isis - "Maritime"
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7.3.03
 
RECOMENDO: The Cardigans - "First Band On The Moon" (1996)
É. Mais um álbum que não recebeu o devido respeito. Imediatamente e erroneamente identificado pelo megasucesso Lovefool, "First Band On The Moon" é um belíssimo trabalho pop que mescla inúmeras referências européias para chegar a uma sonoridade acessível e ao mesmo tempo refinada.
Acontece comigo: eventualmente uma música ou um disco me remetem a imagens. Um CD do Sepultura traz uma imagem de agressão à cabeça, Up do R.E.M. traz uma idéia de sombras. Este álbum dos Cardigans traz uma imagem nítida de inverno, de paisagens serranas e de uma taça de vinho frente à uma lareira. Deve ser pelo forte apelo de arranjos baseados em cordas e instrumentos de sopro, pelos suaves (quase infantis) vocais e pela conexão com as influências suecas. O que mais me impressiona neste trabalho é os caminhos inusitados que os cinco suecos percorreram para chegar até o pop. Sons inusitados como um relógio "cuco", sopros, eletrônicas bem produzidas, baterias atreladas aos anos 60. Capa nebulosa, belíssima. Tudo soando com aquele espírito de capricho, longe do resultado fácil. A própria canção Lovefool teve uma situação esquisita: o seu primeiro video, veiculado na Europa, mostrava os caras da banda festeando com uma stripper balzaca, enquanto a bela Nina Gordon chorava suas mágoas. Por mais pop que a canção soasse, sempre havia um lado obscuro a ser descoberto. Tanto que, quando a música foi trabalhada como trilha de um filme, a gravadora exigiu um novo video colorido e acessível. O mesmo tornou a acontecer com Been It, a música de trabalho seguinte, provando que os suecos são criaturas doces com alma de metaleiro.
Entre as surpresas, uma versão mezzo trip-hop do clássico metaleiro Iron Man, sendo que a banda já havia coverizado Sabbath Bloody Sabbath em versão soft anteriormente. Do primeiro álbum até este, os Cardigans "First Band On The Moon" teve boa receptividade graças a seu hit estrondoso. Acredito, porém, que a reputação que a banda atingiu ficou aquém à merecida, uma vez que eles seguem reconhecidos como uma daquelas bandas de segunda linha, sem grande importância. No próximo mês está saindo o novo álbum e veremos se o mundo já está pronto para receber esses caras da forma como eles merecem.


ouvindo: Queens Of The Stone Age - "The Lost Art Of Keeping A Secret" (09/05/2000@The Usual; San Jose, CA)
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6.3.03
 
RECOMENDO: Faith No More - "Angel Dust" (1992)
Há alguns dias atrás o Ricardo Schott resenhou muito bem esse que é um dos meus álbuns prediletos. É sem sombra de dúvida o álbum que eu mais me fez salivar até que pudesse colocar minhas mãos nele. Tudo porque no ano de 1992, o Faith No More era o grande destaque internacional no Brasil. Erroneamente vinculado a ídolos do momento, os caras passaram a agradar gregos e troianos, garotinhos e cocotinhas. Tudo graças à alta rotatividade nas rádios e na (ainda bacana) MTV. Mike Patton chegava ao ponto de figurar em revistas teens como "Carícia". Na turnê nacional que precedera "Angel Dust", esse público incauto e pouco exigente acendia isqueiros em "Edge Of The World", pogueava em "Epic" e batia cabeça com "War Pigs". Mike Patton era Deus e inspirava hordas de clones tupiniquins.
No início de 1992, uma edição da finada revista Bizz antecipava, direto dos estúdios de gravação, o que viria a ser o tão aguardado álbum. A partir da leitura daquela reportagem eu começara a vislumbrar em minha imaginação o que estaria por vir. A descrição que o repórter fizera das faixas abriu minha imaginação e minha impaciência aumentava a cada dia. Certa vez, cerca de um mês antes do CD sair, um colega aparece na sala de aula com uma fita gravada em que haviam 4 faixas do esperadíssimo álbum. As 4 faixas provinham do EP de "Midlife Crisis" e aquele gostinho inicial, 15 minutos do meu recreio (bons tempos aqueles em que eu tinha direito a um recreio), acentuaram ainda mais minha apreensão. A MTV acabou estreiando, uns dias depois, o video de "Midlife Crisis" e algum sortudo, no colégio, pintou com a primeira cópia importada do tão esperado CD.
Naqueles tempos de colégio eu era um pelado, não tinha nem para uma empada (não que hoje dê para fazer grandes compras de CDs, mas sempre dá para encarar alguma coisinha) e fiquei aguardando a tal edição nacional. Ia nas lojas, perguntava e nada. A impaciência chegou ao ponto de eu ter de sucumbir aos meus desejos e comprar o importado por um preço alto. Mas nunca me arrependi dsso.
"Angel Dust" foi aquilo que ninguém esperava. O comentário geral era "tá tipo o do Mr. Bungle". Patton & cia. apostaram no radicalismo e surpreenderam a todos os que esperavam mais uma dose de funk metal no estilo Epic. À base de muita ironia e sarcasmo, sepultaram a imagem de "gatinhos californianos" e deram um fim à pagação de mico que fizeram nos videos de "Epic" e "Falling To Pieces". Pela primeira vez, Patton ganhava terreno dentro da banda, aplicava sua verdadeira personalidade musical e o ecletismo, a opção pelo não-comercial tornara-se oficial dali em diante. Gritos, sussurros, demências e vocais suaves aliavam-se a samplers, muitos teclados e guitarras pesadas. As faixas caminhavam harmonicamente entre funk metals evoluídos ("Land Of Sunshine","Kindergarten","Everything's Ruined"), insanidades industriais ("Caffeine", "Malpractice", "Jizzlobber"), hits potenciais ("Midlife Crisis", "A Small Victory"), experimentalismo ("Crack Hitler") e música de elevador ("Midnight Cowboy"). Tudo assim, naturalmente. A banda mostrava-se segura em relação ao rebento e sabia muito bem que, acima de tudo, "Angel Dust" significava uma gargalhada na cara do mercado, da mídia e dos fãs (convictos ou temporários).
"Angel Dust" é o álbum do FNM que mais remete à Patton, é o que mais tem atitude e inconformismo com o sucesso. Tem os melhores vocais e as melhores interpretações. Impera nele um ar de sarcasmo e conflito entre os 5 integrantes (o que se confirmaria verdadeiro com a saída do guitarrista Jim Martin) que consagraria o fator diferencial desta obra. É o símbolo da falta de compromisso com carreiras fixas que viria a refletir as atitudes futuras de Mike Patton. Depois de "Angel Dust" os cartuchos do FNM perderam potência e as carreiras paralelas passaram a tomar mais importância na vida de alguns integrantes. Os álbuns seguintes foram bons mas perderam muito brilho e se caracterizaram pela falta de entrosamento entre os integrantes. Não houve mais, na carreira do FNM, a mesma metralhadora de inspirações e pontos altos como houvera em "Angel Dust".
Existem boatos fortes de que há, nos circuitos de troca, um DVD-r com 4 horas de making-of deste álbum. Teria sido gravado pela MTV e comercializado no mercado negro. Se alguém aí tiver acesso a este material, por favor, contate-me.


ouvindo: Maldoror - "Butterfly Kiss"
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5.3.03
 
Se alguém leu os comentários do dia 01/03, notou que o meu amigo Medina levantou uma questão sobre as baterias receberem mais destaque do que as guitarras nos álbuns mais contemporâneos. Hoje mesmo, ele questiona em seu blog se ele está ficando velho ou as bandas de hoje são mesmo piores do que as de antigamente.
Caro Medina, essas questões são de difíceis resposta pois elas englobam um pouco de tudo o que você está pensando. Evidentemente, nossa nostalgia concentra-se sempre nos momentos áureos de nossa vida: a adolescência. É nessa época em que conseguimos melhor relacionar os acontecimentos pessoais com as nossas trilhas sonoras. À medida que envelhecemos, perdemos muito de nossa inocência e nosso senso crítico aumenta, além de nossa cabeça ficar mais presa à realidade. É natural então que recebamos as novidades com menos entusiasmo que recebíamos no passado.
O fator influências tembém nos ajuda a analisar melhor. As bandas dos anos 60 tinham menos passado dentro do rock. Pouco havia acontecido se comparado com hoje e muito existia ainda para se explorar. O resultado sonoro desses caras era sempre genuíno, pois sempre havia algum terreno sendo desbravado. Hoje os milhares de acordes já foram tocados e repetidos e copiados. As boas bandas da atualidade são aquelas que conseguem utilizar algumas dessas milhares de referências com um pingo de originalidade, com um toque de personalidade própria.
Tecnicamente falando, a produção musical passou por diversas descobertas desde os anos 60. O grande nível de recursos tecnológicos proporcionou aos músicos facilidades que foram em sentido inverso à exploração insistente e "honesta" que marcaram álbuns como "Pet Sounds", "Smile" e "Sgt. Peppers". As coisas passaram a ficar menos humanas e mais artificiais em alguns pontos. O conceito de som bom, vibrante, mudou na ótica das produções e hoje o som pesado está mais concentrado no volume da mixagem do que na habilidade com os instrumentos. O CD do Zwan (indicado aqui no dia 27/02) foi um caso inédito em que os fãs "riparam" as músicas e analisaram o resultado final num Cool Edit da vida. Chegaram à conclusão que o volume de mixagem e masterização estava absurdo, num fenômeno chamado clipping, melhor traduzindo para "distorção". Isso foi feito propositalmente para deixar a sonoridade "musculosa", segundo a banda, mas demonstra que hoje as coisas podem e são bastante modificadas em laboratório. Se isso é positivo ou negativo, não sei. A liberdade do músico aumentou se analisarmos os recusos. Mas o resultado final pode passar bem distante do que uma banda realmente é. Isso sem falar na tendência à homogeinização dos sons, com todos mais ou menos se parecendo no final das contas.
Temos também um mercado mais agressivo, mais oferta de bandas e uma rotatividade muito grande de informação. O público, porém, continua o mesmo: exige o óbvio e compra o CD da Norah Jones porque ela ganhou um (pfff) Grammy. Se os produtores do Metallica sabem que a galera gosta do som num determinado mix, vai ser difícil produzir coisas fora desse padrão. Muitos artistas, para ganhar dinheiro, acomodaram-se em fórmulas e não acostumaram os ouvintes a exigir mais. Eu, como ouvinte, exijo que minhas bandas prediletas lancem álbuns diferentes, nem que seja para pior. A evolução é o primeiro passo na qualidade artistica.
Ainda assim, temos os casos excepcionais onde álbuns clássicos e contemporâneos acabam nascendo. "Ok Computer" fez uso de conceitos eletrônicos mas não abriu mão da linguagem melancólica que consagra bons álbuns. Os álbuns seguintes do Radiohead (que para mim são excelentes) usaram de radicalismos inesperados para maquiar canções não tão complicadas assim. "Angel Dust" do Faith No More aliou milhares de referências e fez todas soarem em harmonia, com um show de interpretação do Sr. Patton. "Mellon Collie And The Infinite Sadness" resgatou uma sonoridade setentista e deixou as emoções à flor da pele. Todos os grandes álbuns dos anos 90 têm em comum o empreendedorismo, a falta de preocupação com os resultados comerciais e a confiança nos caminhos que são trilhados. Acho que é meio por aí que identificamos bons discos, independente da época em que são compostos.
Não sei se consegui responder à sua pergunta, mas creio que hoje pode até ser mais complicado de se produzir grandes discos, memoráveis. O mercado às vezes não concorda com a gente, as pessoas não digerem um álbum como o do Fantômas. Elas não foram acostumadas a reconhecer qualidade em obras alternativas, diferentes, que exigem um pouco de dedicação mas que provocam efeitos sensacionais aos que relacionam com elas. Acho que é por aí.

ouvindo: Ministry - "Hero"
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3.3.03
 
Singles:
Buenas, adoro o formato. É uma pena, uma lástima que a nossa decadente indústria nacional ignore essa opção. Até entendo, financeiramente não dá o retorno que eles esperam, dá prejuízo e tudo mais. Mas eu não consigo desvincular os b-sides do material de uma banda. A produção da banda não está somente nos oficiais, está nos sim nos singles e o trabalho está completo quando se leva essas faixas obscuras em conta.
Existem bandas que produzem singles maravilhosos, com faixas melhores do que as que foram para o full lenght. É obvio e corriqueiro que os singles tenham faixas ruins também. Há bandas prolíficas que produzem material para 3 álbuns em uma tacada só. Há bandas que entram em estúdio com 14 faixas e mais nada, e das 14, 12 entram no álbum. Por isso a gente vê álbuns com apenas um single de 2 b-sides ou 2 singles com um mísero b-side.
Meus singles prediletos são os do Smashing Pumpkins. Cara, que trabalho formidável. Os caras conseguiram reunir dois lançamentos clássicos só com b-sides, no mesmo nível dos outros trabalhos da banda. Tanto o "Pisces Iscariot" como a caixa "The Aeroplane Flies High" não só complementam os álbuns oficiais como enriquecem o catálogo deles. Muitas faixas destes lançamentos foram tratadas pela banda e pelos fãs com o mesmo nível de importância que "Today", por exemplo. "Set The Ray To Jerry", "Hello Kitty Kat", "Marquis In Spades" e "Medellia Of The Grey Skies" figuram entre as prediletas de muitos fãs, bem a frente de outros "a-sides". O "The Masterplan", do Oasis, é outra compilação que está no mesmo nível de seus melhores álbuns. Então, por que o caráter obscuro aos b-sides?
Sem falar na arte gráfica, que para colecionadores de discos como eu, é tão importante quanto a música. Artistas como Coldplay, Placebo, Starsailor e os próprios Pumpkins (este em algumas fases) mantiveram nos singles a mesma proposta gráfica e a mesma temática que apresentaram no álbum. É uma complementação em todos os sentidos.
Falando nisso, é hora do meu primeiro O.D.:

O.D. (objeto de desejo): Singles.
- AYWKUBT Trail Of Dead: "Another Morning Stoner" dutch edition (out now)
- Interpol - "Obstacle 1" (out now)
- Zwan - "Honestly" (out now)
- Placebo - "The Bitter End" 1 & 2 (10/03/2003)
- The Cardigans - "For What It's Worth" (10/03/2003)
- Queens Of The Stone Age - "Go With The Flow" australian edition (17/03/2003)
- Coldplay - "Clocks" australian edition (17/03/2003)
- Coldplay - "Clocks" UK CD & DVD (17/03/2003)
- Queens Of The Stone Age - "Go With The Flow" 1 & 2 (07/04/2003)
- Interpol - "Say Hello To Angels" (14/04/2003)

Se alguém aí trabalhar em gravadora e estiver a fim de mandar qualquer um dos citados para minha caixa de correio, agradeceria. Se bem que pelo menos o Zwan já deve estar a caminho. Senão, vou dar um jeito de adquiri-los aos poucos. Março de 2003 será um mês complicado, muita coisa interessante saindo ao mesmo tempo em termos de singles. E o Bush louquinho para atacar o Saddam, o dólar com as turbinas aquecidas. Please, Bush, make love not war!

ouvindo: Smashing Pumpkins - "There It Goes" (studio - Mashed Potatoes version)

2002 foi um bom ano em termos de rock. As gravadoras majors decidiram apostar em algumas bandas e desta aposta saiu uma pá de artistas ligados ao rock que vieram roubar um pouco da cena pertencente às Britneys e Dursts da vida. E muitos desses novos CDs incensados não eram assim tão bons, enquanto que muitos outros de mais potencial passaram meio que desapercebidos. O CD a seguir é um desses que devia estar no top 5, mas ficou entre os 20 melhores, abaixo de CDs que não mereciam as posições que alcançaram.

RECOMENDO: ...And You Will Know Us By The Trail Of Dead - "Source Tags & Codes" (2002)
Quarteto de caras gente-fina que vieram do Texas, o Trail Of Dead foi indicado como uma das bandas que "salvariam o rock", integrantes da nova safra. Receberam os holofotes simultaneamente a outros destaques como At The Drive-In e Queens Of The Stone Age (sendo essas bandas erroneamente comparadas entre si). A característica mais legal desse quarteto é a falta de interesse pelo mundo rockstar, pelo glamour e possível êxito comercial. Ao se escutar um CD da banda, nota-se que os caras não estão nem aí para o ouvinte. O Trail Of Dead esteve em uma mini-turnê pelo Brasil, na política do it yourself. Hospedados nas casas dos produtores, fizeram questão de mostrar que são sujeitos simples como nós que adoram tocar e destruir equipamentos. São um dos melhores shows da praça, e a simplicidade dos integrantes é tanta que você frequentemente encontra posts dos caras na mailing list oficial da banda. Tipo, discutindo com você o que acharam de um determinado CD. Assim, bem normal.
"Source Tags & Codes" tem um fator novo na carreira deles. É o primeiro álbum deles por um selo major (Interscope Records) e algumas coisas foram aprimoradas para que esse álbum descesse goela abaixo.
Os álbuns anteriores deles, por serem independentes, recorriam ao total descompromisso com formatos, apresentando quase que jam sessions digitalmente registradas. O álbum inicial, ... And You Will Know Us By The Trail Of Dead é o mais tosco, com microfonias sujas e músicas mais complicadas. Usando recursos do estilo agita-acalma-agita, o CD por diversas vezes transforma-se em uma massaroca de ruídos, traduzindo muito bem o espírito deles. "Madonna", seu segundo álbum (saiu aqui pela Trama), dá uma retocada na proposta e passa a oferecer faixas um pouco mais aprimoradas tanto nas composições como na nitidez da sonoridade. Muitos apeciadores preferem "Madonna" ao seu sucessor. O passo final para a major foi antecipado por um EP chamado "Relative Ways", que viria a dar um gostinho do que o debut na Interscope seria.
E então "Source Tags & Codes" saiu e me surpreendeu. Foi incrível constatar como eles foram capazes de alcançar universos mais amplos sem ter de abandonar seu território. Temos aqui pelo menos quatro faixas de qualidade absoluta, que conquistam o bom ouvinte de rock. São elas "It Was There That I Saw You", "Another Morning Stoner", "How Near How Far" e "Relative Ways" (em versão idêntica à do EP que antecedera o álbum).
Com influências evidentes de Sonic Youth, Fugazi e música punk, esses rapazes conseguem reunir personalidade e qualidade de composição em um formato musical já bastante explorado. Guitarras ensandecidas, bateria quebrada nervosíssima e vocais urrados dão um clima pulsante, primal ao CD. A dinâmica é a falta de regras, os vocais são alternados, os músicos não possuem um instrumento oficial. Nada aqui parece falso ou exaustivamente trabalhado, nota-se que preocupação maior foi passar a limpo toda a energia que eles são capazes de liberar. Dos três álbuns, é o mais bem resolvido e o que melhor demonstra as aptidões de Conrad Keely & cia. para compor belas canções de rock.
Aqueles que tiverem a oportunidade de escutar alguns de seus b-sides concluirão que o tímido flerte com a eletrônica e o uso de outros instrumentos como piano consagram a certeza de que a porrada é apena uma das facetas destes talentosos rapazes. Podem apostar que desse arbusto vai sair mais coelho. É um dos meus preferidos de 2002.


ouvindo: Kyuss - "Demon Cleaner"
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2.3.03
 
Alalaô! É carnaval. Se o prezado leitor está lendo esta linha é porque faz parte dos que odeia o carnaval. Nunca solicitei ao Ibope que levantasse junto à duzia de leitores deste recém-inaugurado espaço quais deles integram o grupo de detratores desta festa popular. Não solicitei e não solicitarei, porque tenho certeza que 99,99% deles estão nesse momento procurando outra coisa para fazer que não seja pular por aí ou assistir à cobertura (sempre igual) que as televisões fazem. Simplesmente não dá, existem milhares de coisas melhores para fazer do que entrar nessa. Mas se você aí ainda tem um pouquinho de vontade de aliar o espírito do rock com o samba, vai aí um "recomendo" para passar o feriado no espírito do Momo (pero no mucho):

RECOMENDO: Los Hermanos - "Bloco Do Eu Sozinho" (2001)
Exatamente como você, meu amigo, esses caras chegaram até os meus ouvidos pela primeira vez com uma música incrivelmente pop que, explorada até os ossos, veio a desaflorar em outros campos como o pagode, o axé e o forró. Naquele verão, "Anna Júlia" tocou à exaustão e o sucesso, o hit perfeito que toda a banda iniciante sempre almeja e sonha acabou servindo como uma guilhotina na cabeça da banda. Pelo menos em termos de mercado. Os "alternas" chutaram longe, os "indiferentes" acharam bonitinho e o povão "dissecou" a faixa e virou as costas para o que eles ainda tinham para mostrar. O álbum de estréia acabou transformando os caras em one hit wonders e as pessoas passaram a vê-los como os caras da "Anna Júlia". Inclusive sua gravadora, a finada Abril Music.
Neste cenário de terra-arrasada, os caras decidiram lutar contra tudo e todos e apostaram todas as fichas em dois conceitos muito comuns em bandas e álbuns de primeira qualidade: liberdade e originalidade. Reuniram 14 faixas que, de cara, contrariavam tudo o que as pessoas, o mercado e os patrões esperavam deles. Produzido por Chico Neves, "O Bloco Do Eu Sozinho" veio como um bebê-águia que a Abril não queria embalar. Não havia nesse "produto" nenhum acorde que remetesse ao hit que os amaldiçoara. Definitivamente não dava para capitalizar dinheiro fácil como antes. E aí começou uma queda de braço no estilo "lança não-lança" que culminou com a escalação de Marcelo Sussekind para maquiar a obra, deixando-a mais "acessível". E mesmo com essa interferência da toda-poderosa, o "Bloco" (como é carinhosamente chamado pelos fãs) veio ao mundo como uma genuína obra-prima.
Totalmente desvinculado de conceitos e de questões externas que cercaram o processo de gravação/lançamento (êpa, e a letra de "Cadê Teu Suin-?", hein meu?), o disco oferece canções incrivelmente originais, dotadas de personalidade e criatividade como há muito, mas muito tempo não se ouvia nessas terras. Lembro que o pessoal da BungleWeird (lista de discussões sobre Faith No More) começou a apitar que o disco estava saindo bom, que valia a pena dar o braço a torcer e escutar os caras. De tanto que a turma insistiu, eu fui atrás e me surpreendi. Estava no meu CD player uma série de músicas que remetiam à MPB mais antiga, ao samba, ao temas de tristeza e desilusão amorosa. Mas ao mesmo tempo, tinha rock bom, tinha peso e tinha vigor. Me impressionava a segurança com que esses caras percorreram estes caminhos, a certeza de que aquelas músicas tinham futuro longe do sucesso fácil e da comercialização óbvia.
"A Flor", com os vocais alternados entre o Camelo e o Ruivo já mostra o alto nível do álbum. "Retrato Pra Iaiá", "Cadê Teu Suín-?" e "Assim Será" usam sonoridades herdadas da música brasileira mais antiga, pouco explorada em álbuns de rock nacional. Dotadas de artifícios que fogem ao pop fácil, as músicas conseguem ainda assim atingir pontos emocionantes em determinadas partes. "Casa Pré-Fabricada", "Sentimental" e "Fingi Na Hora Rir" mesclam momentos de peso genuíno com elementos melancólicos. Enfim, um prato refinado da melhor música brasileira.
Relatos da banda indicam que este CD passou longe do êxito comercial. Por outro lado, defendem que em todos os lugares que tocam conseguem reconhecer pessoas relacionadas com o CD, ouvintes genuínos. Estão lá porque viraram fãs e estão por aí espalhando a palavra, tentando convencer os simples mortais a conhecer o outro lado desta banda sensacionalmente talentosa. "O Bloco Do Eu Sozinho" vai figurar entre os grandes clássicos da música brasileira, escrevo com convicção. Até porque quem menos acreditou neles, a sua gravadora, sucumbiu às dificuldades e afundou.
Taí a dica. Passem o seu carnaval com esse CD. Não tem alalaô, é verdade. Mas aposto que você vai se surpreender com o que eles têm a oferecer.


ouvindo: Video Hits - "5a. Embalada"
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1.3.03
 
Pô pessoal, muito obrigado pelas palavras de incentivo.É muito legal saber que existem parceiros interessados nas minhas baboseiras virtuais. Dava para aproveitar melhor o tempo e ler sobre o Bush, ou o Iraque... Mas valeu mesmo.

Bem, estive na Saraiva ontem e comprei:
1) Beatles, The - "Rubber Soul"
2) Ministry - "The Mind Is A Terrible Thing To Taste" (importado, uma pechincha de R$30,00)
3) Pixies, The - "Pixies" (aka "The Purple Tape")

Vi que estão vendendo o "Turn Out The Bright Lights" do Interpol. Fiquei feliz em saber que a Trama correu atrás desse CD, é acima da média. Já tinha o importado, e em breve, estarei dissecando-o em um "recomendado". Aguardem.
PS.: Alguém aí sabe me explicar por que os discos oficiais do Beatles não são encontrados em promoções? É sempre em torno de R$ 30,00~35,00. Paguei R$27,00 no meu "Rubber Soul", mas sinceramente não entendo por que diabos a gravadora aplica esse protecionismo sobre a banda. Acho que o único que atingiu preço de mercadão foi o caça-níqueis "1", mas o objetivo dele era esse mesmo, não? Seria culpa do Michael Jackson?

O.C. (objeto de consumo): Pixies, The - "Pixies" (ou The Purple Tape - 2003)
Bem, é o seguinte, está escrito na contracapa deste CD: "As músicas neste CD foram gravadas em março de 1987 e incluídas no que seria conhecido pelos fãs inveterados como A Fita Roxa. Desta coleção de dezessete músicas, oito foram escolhidas para formar o primeiro álbum do Pixies, Come On Pilgrim. Estas são as nove canções remanescentes e incluem a gravação original de Here Comes You Man", assim como uma faixa inédita, Rock A My Soul".
Esse álbum é, assim como todos os lançamentos que vieram depois de "Trompe Le Monde", um caça-níquel que explora material de uma finada banda. Até que o "Live At BBC" e a compilação de b-sides eram mais honestos, pois tinham mais conteúdo e um pouco mais de relevância. Porém, o objeto de que tratamos aqui é Pixies e todos sabemos que essa banda merece atenção em qualquer suspiro que seja emitido. Desta forma, fica a autorização para que se busque esse material e garanto nele bons pedaços de um Pixies iniciante, cheio de gás e tosqueira. As versões não diferem muito do que já conhecemos. "Here Comes Your Man" é a que mais se afasta do que conhecemos (graças a Deus), mas nada que cause impacto a ouvidos que já surraram à base dos 4 fantásticos de Boston. É a legítima compra em que se está desesperado para gastar uns pilas num CD e não tem opções mais relevantes. As músicas são boas, a banda é ótima mas o CD não vai viver dentro de seu player. É, na verdade, um bootleg que virou oficial.
Falando em Pixies, êta banda difícil de se decretar os melhores álbuns, hein? O primeiro é o mais fraco, o mais rapidão e de menos personalidade. Mas ainda assim é um debut de luxo. O segundo já fez (e ainda deve fazer) muita gente chorar. Maior referência para Steve Albini, "SurferRosa" é aquela tosqueira psicopata atemporal. Pode ser escutada tanto em 1988 como em 2045 que o efeito é o mesmo. "Doolittle" é do caraio. Tem a mais infame ("Here Comes You Man"), mas é complementada por verdadeiros clássicos indies como "Debaser" e "Wave Of Mutilation". Duvido que nenhum de vocês tenha boas lembranças da época em que escutavam Black Francis cantando "Hope Everything Is Aaaaalright" no começo de "Mr. Grieves". Ganhei esse vinil de natal quando estava na 7a., 8a. série. Cacete. Já "Bossanova" é mais na manha, mas nada ao ponto de justificar seu título. Com guitarreiras apontadas para todos os lados, faz alguns usos de climas para conquistar o ouvinte. "Trompe Le Monde" talvez seja o meu favorito. Com a banda um pouco esfacelada, eles conseguiram criar um álbum sujão e irado. Adoro "Letter To Memphis", "Alec Eiffel" e a cover para "Head On". Muitas músicas neste álbum têm aquele ponto fulminante, em que a gente coça os olhos para checar se é realidade o que está acontecendo. Quem diria que os caras pediriam as contas depois disto, hein? E o mais curioso é que nehum deles conseguiu emplacar algo mítico como os Pixies, não passaram nem perto. As Breeders ainda foram as melhorzinhas, tiveram um relativo reconhecimento. O Frank Black, que tinha tudo para detonar, ficou meio que no gueto. Acho que eu fico com "Trompe Le Monde" em primeiro e empato o "SurferRosa" com o "Dootlittle" em segundo.



ouvindo: Pixies, The: "Subbacultcha" (Purple Tape sessions)
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